Avançar para o conteúdo principal

Som ao Vivo

 Devil in Me @ Belin Bar 3 de Março 2011

De volta a Lisboa, o maior nome do Hardcore nacional passou pelo histórico Bairro Alto que , já desde os tempos de D. Dinis, é sinónimo de boémio.

Por Tiago Queirós

O Rei bem tentou fazer daquela zona um local de formação, mas de forma inglória teve de deslocalizar aquela que foi a primeira universidade nacional para Coimbra. Ali faz-se a festa, de geração em geração. E a família que forma os Devil in Me não é excepção.

Verificou-se de facto um dia de festa em família no Berlin Bar que fez jus ao conceito underground que acolhe o género.

À porta, o número de pessoas era menor que o número de tatuagens que as caracteriza e que reflecte o seu estilo de vida. São meras simbologias perante a devoção eterna à sua paixão, que não precisa de luzes da ribalta para criar momentos memoráveis.

Neste tipo de concertos não há limites ou zonas reservadas, há apenas um local de comunhão e de convívio. Do palco ao balcão do bar, todo o sítio pode ser usado para libertar a energia criada pelos mestres em palco , que por breves momentos nos fazem esquecer os problemas que acarretamos. O sentimento é de liberdade. Ninguém está ali para julgar ninguém.

O pretexto do novo álbum («The End») serviu para matar saudades de concertos que ficaram na memória de muitos dos que pisaram recintos como o Incrível Almadense ou o Tuatara. As letras perduram na memória da maioria, e temas como «Brothers in Arms» , «From Dust Till Dawn», «Back Against the Wall» e « Only God Can Judge Me» continuam a suscitar a mesma reacção de forma unânime. Euforia geral.

O apoio demonstrado pelo público é mais do que louvável, e verificar que as músicas mais recentes estão também elas decoradas, é uma honra para a banda e para todo o género em si.

Que devoção! «The End» por exemplo, foi ao contrário do que seria de esperar, um grande momento e possivelmente um futuro clássico da banda.

Não se chega facilmente a este tipo de música, e ainda mais difícil será ao nível de nomes nacionais, mas graças aos Devil in Me abriram-se muitas portas no Hardcore nacional.

Pelo mundo inteiro podem falar de Madball, Sick of it All, Black Flag, e de outros bons exemplos de hardcore, mas a verdade é que nós, cada vez mais, também temos, e apesar da camuflagem underground, estes não ficam assim tão atrás do que se faz lá fora.

Voltando ao concerto, o mosh fora constante, o crowd surfing criou mais uma vez momentos visuais impares que em mais lado nenhum se verifica. «Toda a gente dança», gritou Poli (vocalista) por várias vezes ao qual o público se recusou a negar ao pedido. Grande espírito para um recinto tão pequeno. A cima de tudo reinou a diversão.

Houve ainda tempo para um pequeno tributo aos X-Acto com a cover de «Anchor» que respondeu assim ao pedido que se fez ouvir na plateia.

Mas a noite não se fez só de Devil in Me, que mais uma vez nos presenciaram com novas promessas.

Os Shape são exemplo de novos projectos dentro do género e que se teve oportunidade de assistir. Apesar de terem tarefa, por vezes ingrata, de abrir a cerimónia demonstraram-se ao nível. Grande performance do vocalista que demonstra um talento natural.

Os No Good Reason deram-nos oportunidade de relembrar Black Flag e Ramones, mas a sua performance ficou algo abaixo do que se verificou anteriormente, quer na atitude quer ao nível vocal. Deu-me a sensação que o vocalista estava com dificuldades a ouvir-se a si próprio.

No fim, poucos foram os que arredaram o pé, mantendo-se firmes no apoio às bandas que assistiram criando mais uma vez um ambiente ímpar. Sem vedetismos, fieis a si mesmo,s de onde se poderia encontrar também o ícone do Punk português, João Ribas (Tara Perdida, Censurados e Ku de Judas).

Apesar do dia ser de semana, e das dores no corpo no dia seguinte, ninguém saiu desiludido mais uma vez. Aos Devil in Me desejo uma Tour ao nível deste concerto.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Citizen Kane na Máquina do Tempo

Link da imagem Texto original: Miguel Ribeiro Locução: Irene Leite Adaptação e Edição: Irene Leite

REM no vídeo do mês

 Link da imagem Decorria o ano de 1985 quando pela primeira vez se ouviu o tema “Bad Day” num concerto dos REM em Nova Iorque. Contudo , só 18 anos mais tarde foi editado, tendo surgido na compilação de 2003, “In Time: The Best of REM 1988-2003”. Ainda que originalmente produzida em meados da década de 80, esta música manteve-se actual, tanto no som, como na letra crítica à sociedade americana. Por Carmen Gonçalves Originalmente dominado de “PSA”, uma abreviatura para “Public Service Announcement”, este tema surgiu como uma crítica às políticas do presidente dos Estados Unidos, Ronald Regan. Embora não tenha sido editado, foi o mote para o lançamento em 1987 de “ It's the End of the World as We Know It (And I Feel Fine) ”, um tema com uma cadência similar, que teve um estrondoso sucesso. A parecença dos dois temas não se centra só na letra cáustica de crítica à sociedade americana. Ao escutarmos o ritmo e a sonoridade de ambas, não se pode deixar de verificar as

Roquivários no Luso Vintage

Link da imagem O início da década de 80 ficou marcado pelo aparecimento de diversas bandas rock no panorama nacional. A causa foi o estrondoso sucesso do álbum de estreia de Rui Veloso “Ar de Rock” que abriu caminho para novas bandas emergirem. Umas singraram na cena musical, até aos dias de hoje, caso é dos Xutos & Pontapés, UHF ou GNR, enquanto outras ficaram pelo caminho, após algum sucesso inicial. Destas destacam-se os Roquivários que encontraram no tema “Cristina” o seu maior êxito junto do público.    Por Carmen Gonçalves A banda formou-se em 1981 no seguimento do “boom” da cena rock, sob o nome original de “Rock e Varius”. Esta designação pretendia reflectir as influências musicais que passavam por vários estilos, não se cingindo apenas ao rock puro e duro. A música pop, o reggae e o ska eram variantes fáceis de detectar no seu som, e que marcaram o disco de estreia , “Pronto a Curtir”, editado em 1981.   Apesar de a crítica ter sido dura com o trabalho