The Killers – grandes da nova geração
Existe um pressuposto, defendido por alguns “Velhos do Restelo”, de que a primeira década do presente milénio não conheceu bandas dignas de referência. Há para todos os gostos, os que falam mal pelo simples prazer de ser do contra, os que pararam no tempo e a única coisa que têm para dizer é “no meu tempo é que era bom”, ou aqueles ainda que simplesmente se contentam com os que lhes é servido pelas playlists da maioria das rádios mais do mesmo.
Por Bruno Vieira
Este fenómeno, limitador do espírito crítico, não sendo propriamente novo (quando uma década acaba, existe sempre alguma resistência em relação ao que vem a seguir), tem no entanto sido contrariado por quem se interessa pelo fenómeno musical como um todo.
Bandas representativas da nova geração não faltam por aí , e nomes como The White Stripes, Muse, Queens of the Stone Age, The Strokes, The Libertines, Bloc Party, Arcade Fire, Interpol, Editors, Arctic Monkeys, Colplay, Kings of Leon, Kaiser Chiefs, Franz Ferdinand, The Killers, entre outros, são disso exemplo. Embora alguns destes nomes tenham surgido ainda na década de 90, a verdade é que as respectivas carreiras só viriam a consolidar-se definitivamente na década seguinte. Temos por isso toda uma nova geração de bandas que continuam a dar cartas nos dias que correm, bem longe da escassez que muitos apregoam.
É precisamente sobre os The Killers que escrevo esta crónica, provavelmente os mais ambiciosos de entre os citados. Pelo facto de se terem afirmado como uma das bandas mais populares dos últimos anos, já merecem o destaque habitualmente dado aos grandes grupos. O que à partida poderia ser visto como sinal de arrogância, será na realidade sinónimo de confiança e de plena consciência nas suas próprias capacidades.
O quarteto, formado em 2002 em Las Vegas, é composto pelo vocalista e teclista Brandon Flowers, pelo guitarrista David Keuning, por Mark Stoermer na guitarra-baixo e Ronnie Vannucci na bateria. Desde o seu início, quer ao nível de sonoridade quer de imagem, têm primado por um grande sentido de estilo materializado no álbum de estreia “Hot Fuss”, de 2004.
Na linha das bandas New Wave do início dos Anos 80 foram, em meados dos Anos 2000, uma espécie de novos Duran Duran, mais próximos do Reino Unido do que do seu país natal, apesar da consagração definitiva em terras de Sua Magestade só ter acontecido em 2008, aquando do magnífico concerto no mítico Royal Albert Hall de Londres.
O álbum de estreia foi um sucesso, tendo vendido mais de cinco milhões de cópias. Os singles “Somebody Told Me” e “Mr. Brightside” tiveram aceitação imediata. Mas “Hot Fuss” não se fica por aqui e temas como “Smile Like You Mean It”, “All These Things That I`ve Done”, “Change Your Mind” ou “Midnight Show”, merecem igualmente referência.
No segundo álbum “Sam`s Town”, de 2006, a banda procurou aproximar a sonoridade ao gosto do público americano. Mais ambicioso e épico, mas menos consensual no que respeita à crítica, são notórias as influências do período em que os U2 entraram em força na América. Apesar da banda afirmar não fazer música para agradar aos seus conterrâneos, isso poderá ter sido válido para o primeiro álbum, já no segundo existe uma evidente aproximação a clássicos como Springsteen. O próprio nome do álbum não deixa margem para dúvidas, bem como todos os pormenores relacionados com o trabalho artístico da capa, como as fotos do deserto, ou não fosse Las Vegas um oásis no meio do Nevada. O destaque vai naturalmente para os singles , “When You Were Young” e “Read My Mind”, cujo magnífico videoclip curiosamente não tem nada a ver a América. A conferir também os temas “Sam`s Town”, “Bling (Confession of a King)”, “For Reasons Unknow” e “Bones”.
Depois do segundo álbum foi editado em 2007 “Sawdust”, uma compilação de lados B e outros extras, com destaque para o inédito “Tranquilize” (dueto com Lou Reed) e a versão de “Shadowplay” (original de Joy Division). Tratou-se essencialmente de uma peça de colecção para fãs com o propósito de manter a banda à tona entre o esgotamento de “Sam`s Town” e o lançamento do terceiro álbum, que viria a acontecer um ano depois com “Day &; Age”.
Quanto a este último, pode considerar-se como aquele que fez chegar a música dos The Killers aos ouvidos do grande público. Olhado com desconfiança por aqueles que vêm a banda cada vez mais distante da sua génese e acolhido com interesse por quem os descobriu mais recentemente, à parte de gostos “Day &Age” afirmou-se desde cedo com o muito batido “Human”, seguido de “Spaceman” e do dançável “Joy Ride” (a la Franz Ferdinand, último álbum). Não esquecer ainda o delicioso “This Is Your Life”, “The World We Live In”, bem como o rockeiro e tema de abertura “Losing Touch”.
Depois do terceiro álbum não se sabe ao certo ainda o que virá a seguir, mas “A Spaceship Adventure", apresentada em Fevereiro último, poderá ser um indício. A única certeza é que será sempre algo ambicioso, mesmo que isso custe a perda de mais alguns fãs dos primeiros tempos. Não sendo possível agradar a todos, certamente o balanço será positivo em matéria de seguidores. Brandon Flowers é que não dá mostras de abrandar o ritmo, tendo lançado no ano passado o seu primeiro álbum a solo ,“Flamingo”, prova da sua vitalidade enquanto músico, que sabe bem aproveitar as pausas entre álbuns de forma a canalizar a atenção do público para o seu trabalho. Este ano, poderemos vê-lo no Super Bock Super Rock, dois anos depois da primeira passagem por Portugal, quando os The Killers nos proporcionaram um memorável concerto no Estádio do Restelo, perante a presença de quase 40.000 espectadores.
Para Flowers o sucesso, assumido sem receios, não é apenas um fim em si mesmo. Nada de estranho, para quem um dia terá manifestado o seu descontentamento em relação ao sentimento de pequenez típico da maioria das bandas alternativas. Palavras, apesar de tudo, discutíveis, com tudo o que de positivo e negativo uma boa polémica não deve prescindir.
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