Radiohead
São há muito uma consolidada banda de culto que, para além de ter marcado uma geração nascida em finais dos anos 70 e inícios de 80, continua a agitar consciências e a exaltar os mais distintos sentimentos dos seus ouvintes, capaz de conduzir-nos, numa só canção, do mais profundo abismo ao supremo e glorioso paraíso.
Por Susana Terra
Poucos artistas e grupos conseguem aceder a este patamar de reconhecimentos global durante consecutivas décadas, muito menos enveredando por terrenos mais experimentais e recusando as fórmulas que se mostram tão do agrado do público e da crítica. A música dos Radiohead é sempre um desafio para o ouvinte.
Será necessário recuar a 1986, na cidade de Oxford, Inglaterra. Numa escola pública masculina cinco rapazes formaram a banda On a Friday (referência ao único dia em que podiam ensaiar). Eram eles Thom Yorke (voz, guitarra, piano, sintetizador), Jonny Greenwood (guitarra, teclados, sintetizador), Colin Greenwood (baixo), Phil Selway (bateria, percussão) e Ed O’Brien (guitarra, sintetizador) e o mundo da música nunca mais seria o mesmo.
Os On a Friday começaram a dar nas vistas numa Oxford saturada de shoegaze e em 1991 assinam contrato com a EMI. Um das condições impostas à banda seria a mudança de nome…e assim “nasciam” os Radiohead, nome inspirado no título de uma canção dos Talking Heads.
Os On a Friday começaram a dar nas vistas numa Oxford saturada de shoegaze e em 1991 assinam contrato com a EMI. Um das condições impostas à banda seria a mudança de nome…e assim “nasciam” os Radiohead, nome inspirado no título de uma canção dos Talking Heads.
Em 1992 os Radiohead lançam o seu primeiro EP, “Drill”, mas a prestação da banda não suscita opiniões muito favoráveis. O single “Creep” apenas conquistou opiniões negativas por parte da imprensa e não passou no airplay da BBC1 por ser “demasiado depressivo”. Surpreendentemente, aquando do lançamento de Pablo Honey, o primeiro álbum do grupo, Creep tornar-se-ia um esmagador êxito e catapulta o grupo para o sucesso mundial, em muito devido ao facto da MTV passar sucessivamente o seu videoclip.
Creep transforma-se no hino de uma geração niilista e sem futuro, ao mesmo tempo que o aparecimento do grunge confere à música uma atmosfera carregada de angústia, dor e solidão. Embora tenha sido a canção com maior projecção dos Radiohead, há uma recusa concertada do grupo em tocar a Creep ao vivo e ainda hoje não é tocada por Yorke e companhia.
Creep transforma-se no hino de uma geração niilista e sem futuro, ao mesmo tempo que o aparecimento do grunge confere à música uma atmosfera carregada de angústia, dor e solidão. Embora tenha sido a canção com maior projecção dos Radiohead, há uma recusa concertada do grupo em tocar a Creep ao vivo e ainda hoje não é tocada por Yorke e companhia.
Mas voltemos ao primeiro álbum, Pablo Honey , que surge em 1993. Comercialmente foi um verdadeiro flop e deu origem a uma tour mundial na qual, durante dois anos, os Radiohead tocaram as mesmas músicas, ininterruptamente. Para bem da sanidade mental de todos os elementos, urgia compor e gravar um novo álbum e eis que os Radiohead viram as costas ao sucesso comercial ao mesmo tempo que aderem à via mais underground.
No ano de 1994 é editado o EP My Iron Lung, com o single homónimo e os Radiohead conquistam agora uma sólida base de fãs do movimento alternativo. The Bands surge em 1995 e poder-se-ia dizer ser o primeiro disco que revela as singularidades do grupo num mercado musical inundado pela brit-pop (e pela famosa guerra entre os Blur e os Oasis), a sonoridade etérea mas simultaneamente densa do álbum The Bends, num movimento contra-corrente esboçou os caminhos que tão promissora banda viria a ter no panorama musical. Singles como “High and Dry”, “Fake Plastic Trees”, “Just”, “My Iron Lung”, “Street Spirit (Fade Out) conduziram The Bends a boas classificações nas tabelas europeias e à tripla platina em Inglaterra.
A fase de efectiva consagração dos Radiohead surgiria com OK Computer, lançado em 1997. OK Computer fala-nos de alienação e transporta-nos para novos ambientes, introduzindo a componente electrónica com maior intensidade. São elementos bem patentes em singles como “Exit Music (For a Film)”, “Paranoid Android”, “No Surprises” ou “Karma Police”. OK Computer conquistou o Grammy de Melhor Álbum Alternativo e a primeira posição no top de vendas britânico , sendo portanto o álbum que marca a consolidação da carreira dos Radiohead.
A fase pós Ok Computer quase significou o fim dos Radiohead – conflitos, papéis indefinidos, a depressão de Yorke e o bloqueio criativo – e deu, contudo, lugar a um dos melhores álbuns, o Kid A (2000), que marca uma cisão face ao disco anterior. Kid A foi um passo arriscado mas acertado, apostando em tonalidades minimalistas, na ênfase dada à electrónica e à introdução do jazz nas composições. Os frutos deste novo rumo são temas como “Idioteque” ou “Optimistic”. Na senda de Kid A, os Radiohead lançam em 2001 Amnesiac, recorrendo a diversas canções gravadas durante o período de criação do KId A. Amnesiac foi aclamado pela crítica e reúne temas marcantes como “Pyramid Song” ou “Knives Out”
Hail to the Thief (2003) é talvez o álbum mais subvalorizado do grupo, não tendo suscitado críticas muito favoráveis e poderá ser considerado o álbum de síntese, ao congregar os diferentes elementos que os Radiohead incorporaram ao longo dos diferentes trabalhos. A Hail to the Thief sucede um período de interregno no qual Greenwood e Yorke trabalham em projectos a solo. In Rainbows marca uma nova era, não só para os Radiohead, mas também para a forma como se comercializa música. Em Outubro de 2007, após ruptura com a EMI, In Rainbows é disponibilizado na internet para download legal e cujo preço ficaria ao critério do comprador. A edição física seria lançada no ano seguinte e contaria com diversos “extra”, tendo sido um estrondoso sucesso de vendas.
Neste ano de 2011 os Radiohead voltam a surpreender-nos com King of the Limbs, sendo já possível escutar “Lotus Flower”. Mantendo a continuidade com In Rainbows e com a fase mais electrónica de Kid A e Amnesiac, King of the Limbs é como uma boa garrafa de vinho: será necessário deixar o disco “envelhecer” até que possa ser devidamente avaliado e enquadrado na (longa) carreira dos Radiohead.
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