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Alice in chains

Mike Starr morreu





Mike Starr, ex-baixista dos Alice in Chains , faleceu esta terça-feira na sua casa em Salt Lake City , avança o site cotonete. Ainda nao é conhecida a causa da sua morte. Em jeito de homenagem, o Som à Letra visita um dos trabalhos mais marcantes do grupo, do qual o baixista fez parte : o álbum Dirt, de 1992. 

Por Tiago Queirós

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Dirt é uma das razões pelo qual os fãs ainda celebram os tempos áureos da banda de Seattle.Tinhamos Nirvana com Nevermind, Soundgarden com Superunknown , Stone Temple Pilots com Core , Pearl Jam com Ten e claro, Alice in Chains com este álbum. No conjunto estes tornaram-se pilares de todo um género e de toda uma geração de jovens alienados. Um pós-punk que buscava os temas mais sombrios para enaltecer a sua raiva.

Este álbum, ao contrário dos restantes, é baseado em riffs mais pesados e menos concentrado na velocidade dos temas. O som característico dos Alice in Chains passa muito pela guitarra de Jerry Cantrell que para além de compor, escreveu as letras que ficariam eternamente ligadas á voz de Stanley.

É um álbum confuso e possivelmente depressivo, nada simples, um registo sentido e das melhores camisolas do grunge. Ao som de «Them Bones» abrem-se as hostilidades… Demonstra um ritmo algo acelerado para o que a banda nos habituou ao longo da carreira, no entanto é dos temas mais celebrados ao vivo e compreende-se bem o porquê.

“Bad dreams come true” é apenas uma passagem da composição do mítico líder e guitarrista Jerry Cantrell que fala de todo um medo pelo que vêem, ou não num pós-vida, ou se preferirem, morte. O Riff é dos mais importantes. O Solo é algo de genial, tal como o refrão, é um grito sentido, um rasgo de emotividade.

Num momento mais directo e despreocupado, «Tham That River» dá a conhecer uma briga com Sean Kinney, baterista da banda. O tom de voz é elevado, puxando pelas cordas vocais de Stanley. Esta vem arranhada bem á 90’s…Perfeita. Directa e sem rodeios, esta música demonstra uma combinação perfeita entre os riffs do guitarrista, o choque de pratos de Sean Kinney e o peso do baixo de Mike Starr. Este último dá início ao tema que se segue. Cheio de distorção, e algum psicadelismo pingado em gotas de Heavy Metal. Cabe ao baixo toda a tonelada de peso deste tema sentido agora, depois da morte do vocalista. « Rain When I Die» apresenta créditos divididos entre as duas caras famosas da banda à altura. Para muitos, um dos melhores momentos vocais. Este é o único tema composto na totalidade da banda.

Marcado pelos contratempos e pelos melhores breaks de bateria do álbum, «Sickman» revela um trabalho de produção fantástico. “What a hell am I?!” é mais um exemplo do sentimento alienado, pondo tudo em causa.. O mundo dos Alice in Chains é feito de correntes, como o nome indica, e a heroína é como sabemos uma delas, possivelmente uma referência ao estilo de vida complicado do vocalista e referente à sua dependência. É bonito e medonho, aterrador por vezes, este tema seria possivelmente um aviso para o fim trágico, já algo anunciado de Layne Staney.

«Rooster» é completamente arrebatador…
A introdução é calma e feita de certa forma envolvente. Trata-se de uma homenagem sentida ao pai de Cantell. Uma brecha de esperança ilumina todo um álbum envolvido em sentimentos de depressão. Deixando o rock mais directo, esta retrata mais uma power ballad envolvida num trabalho de riffs e de solos minuciosos, mas onde os carris são sem dúvida as linhas de baixo de Starr.

«Junkhead» retoma os riffs ao estilo Seattle, numa sequência que se assemelha a algo como um «In Bloom» da banda de Kurt Cobain em Delay e em baixo-tempo… Tommy Iommi certamente gostará de ver o seu trabalho reconhecido quando se verificam referências claras a Black Sabbath na composição deste tema. Pesado no que toca aos riffs poderosos que muito se assemelham aos dos criadores de «Iron Man», extremamente influente na formação do guitarrista dos Alice in Chains.

«Dirt» é como os ingleses dizem: Bad-Ass. Mais uma vez a temática do vício perdido na heroína. Layne torna-se cada vez mais consciente da sua situação. O Riff inicial é diferente de tudo e chama a atenção pelos seus efeitos de delay. Em ritmo baixo este é um dos temas mais sentidos do álbum, e não é por acaso que dá o nome à capa. “You…you are so special..”

«God Smack» encaixava com certa facilidade num álbum de Stone Temple Pilots, o tom de voz está extremamente parecido com o de Scott Weilland, assim com o registo musical a tender para algo mais melódico em termos vocais e mais hard-rock no que toca ao excelente trabalho do baterista. Até os solos em ponte fazem relembrar alguns géneros alternativos ao grunge na altura…A banda Godsmack retirou deste tema o seu nome, mas isso pouco importa.

«Iron Glam» dá um toque humorístico à coisa. Tom Araya dos Deuses do Trash-Metal, os pesados Slayer, foi convidado para celebrar um dos riffs que fiz referência anteriormente - «Iron Man».
«Hate to Feel» abre o seguimento mais pesado do álbum, fazendo de certa forma relembar uma espécie de Led Zeppelin  mas com uma carga negativa acrescida. Esta retrata a relação pai e filho, contado na primeira pessoa por Layne Stanley , também ele filho de um pai “agarrado” á heroína. Algo que viria a ditar toda a sua vida.

«Angry Chair» é o momento mais pesado, quase cinco minutos de headbanging cheio de grandes momentos convertidos através das baquetas de Kinney. “I Don’t mind….”

A letra é mais uma vez um grito de revolta. O baixo marca uma linha a puxar para um Metal algo alternativo, um pouco na onda black-metal… Atenção mais uma vez para a produção na voz de Layne Stanley.

«Down in a Hole» arrepia, do início ao fim. Há qualquer coisa neste tema que é profundo demais, que puxa por sentimentos de nostalgia, de saudade, de medo e receio. É belíssimo do início ao fim e a entrega da banda é total. Layne Stanley eternizou este momento, tal como Kurt Cobain o fizera com o “ultimo olhar” («Where Did You Sleep Last Night?) no famoso programa MTV Unplugged.

Hoje em dia, já sem o vocalista presente, este tema é cantado de lágrima nos olhos por milhares de fãs pelo mundo fora como se um tributo se tratasse.
O momento mais calmo do álbum, porventura mais deslocado, no entanto a perfeição cria a desculpa mais do que necessária.

«Would» termina da melhor forma. A introdução de baixo é possivelmente a melhor do género, o tom sombrio do tema e o rasgo no refrão é simplesmente arrebatador. Qualquer fã do rock dos anos 90 fica arrasado com este tema. Esquizofrénico, doentio, depressivo.

Cabe a Cantrell os versos, que ecoam na cabeça, de rompante entra Stanley num dos melhores momentos da carreira dos Alice in Chains.
É a relembrar o final trágico de Andrew Wood dos Mother Love Bone, vítima de overdose de Speed-balls (uma mistura bombástica de Heroína e Cocaína) que se chega a este incrível tema. Curiosamente é "graças" a este acontecimento que o mundo teve a honra de conhecer os Temple of a Dog que juntava Chris Cornell a Eddie Vedder e ao que viria a ser os Pearl Jam mais tarde.


«Into the flood again
Same old trip it was back then
So I made a big mistake
Try to see it once my way»

São versos em tom de desespero.
Ironicamente a pergunta ficou no ar:

«If I would, could you?»

Para além do cheque mais chorudo da banda, este álbum reflecte um pouco a alma introspectiva e alienada dos Alice in Chains. Reflecte também a essência do Grunge. Dirt é mais do que uma obra obrigatória na discografia dos últimos 20 anos.

Para recordar: 

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