Jeff Buckley - Grace (1994)
Jeff Buckley é um James Dean reencarnado nos anos 90. A sua imagem invoca rebeldia, mas a sua música demonstra uma delicadeza extrema. Perder Jeff Buckley foi perder todo um potencial incalculável e que ainda hoje nos faz perguntar: até onde poderia ter ido? Grace será a sua eterna obra e a nossa eterna dúvida.
Por Tiago Queirós
Aos 27 anos juntou-se ao clube dos astros que cumpriram o prazo de validade como uma estrela. “Live fast, die young”. Jimi Hendrix, Kurt Cobain, Brian Johnson, Jim Morrison, entre outros formam o clube 27.
Este é o único álbum de estúdio do músico e compositor. Grace tem vindo cada vez mais a ser reconhecido como sendo de culto, não só pela crítica como pelo público, que dentro dele encontra várias referências musicais assinaláveis. Nomes como Robert Plant e Jimmy Page (Led Zeppelin) , assim como David Bowie fizeram questão de deixar a sua opinião bem presente, citando que este se trata de um álbum maravilhoso e imprescindível nas listas dos melhores de todos os tempos. Thom Yorke (Radiohead) por sua vez admitiu que um dos maiores hinos da música indie/ alternativa , «Fake Plastic Tree», é composto com várias influências vocais de Buckley.
Jeff Buckley é um verdadeiro músico. Da música vêem as suas origens.É em Tim Buckley que tudo começa. O pai do músico era também ele outro tal, sendo relativamente conhecido. Também ele falecido com apenas 27 anos, nunca manteve uma relação para com o filho desejável, e para compreender Grace é inevitável percorrer o percurso familiar do seu autor.
Não se revelam histórias do passado nem opiniões, apenas sentimentos. O afastamento que Jeff manteve do pai durante anos ditou tanto a sua personalidade como a sua música.
Jeff não queria soar como o pai. Não queria cair na tentação de limitar a sua criatividade. Não queria cair nos mesmos erros …A heroína roubou-lhe o pai distante.
«Mojo Pin» inicia a sequência que tira o fôlego a qualquer um. O tom psicadélico dos versos sussurrantes de Jeff dá lugar a um prolongar dos dotes vocais do mesmo na ponte para o sentido refrão.Este tema representa toda a envolvência doentia de vícios insaciáveis, das pessoas às drogas.
«Grace» dá continuidade à incrível composição partilhada nestes dois primeiros temas com Gary Lucas. A banda que fica de certa forma à sombra do icone Buckley é de qualquer forma um bem mais do que essencial nesta magnífica produção. Um tema que puxa pela veia mais rockeira do trovador que é acompanhado pelo excelente trabalho de bateria e por alguns “flangers” a dar o efeito de loop ao rebentar da coisa. Um dos temas mais celebrados e compreende-se bem porquê. Mais uma vez a canção toca e as letras são o estandarte perfeito. Dedicada ao sentimento de imortalidade que a paixão lhe dava, Jeff celebra a vida enquanto pode…
A escolha de temas, a busca de inspiração nas pequenas/grandes coisas da vida… a forma como as torna possível – tudo isto prova a genialidade de um jovem com pouco mais de duas décadas. O risco que tomou faz dele um herói da música contemporânea.
«Last Goodbye» é um verdadeiro rasgo de música pop-rock de qualidade. Se do outro lado do pacífico estamos habituados a tudo em grande, tudo bem , Hard Rock, JB representa a simplicidade como fórmula de sucesso. Um tema que muito boa gente gostaria de ter composto ainda nos dias que correm. A ele se entrega o prémio do tema mais aplaudido da banda como single. Os riffs orelhudos deixam escapar os agudos de Jeff que soam incrivelmente seguros. A voz é cristalina e não falha uma única nota. Desafia as suas capacidades a cada compasso , e não teme cair na histeria. Uma das melhores vozes de todos os tempos, não haja qualquer tipo de dúvida.
Esqueçam qualquer balada que ouviram até ao primeiro segundo deste tema. Escondida numa certa timidez, «Lilac Wine» demonstra a verdadeira noção de fragilidade e de beleza, pura e incorruptível . Num tom de voz que não destoaria num Freddy Mercury, traz algo de novo ao álbum. Traz a rendição do ouvinte e a prova de toda uma cultura musical incontestável mergulhada num mar de referências, que neste caso foi até Hope Foye buscar este tema de um musical com mais de meio século. Eterno.
«So Real» soa “so indie” que obriga-nos a verificar as tais influências que este transmitiu a bandas como Radiohead. Composta num simples rasgo de espontaneidade a meio da noite – de uma só vez apenas. A secção rítmica, aliás o refrão...Estonteante. Os pequenos arranjos de produção estão cinco estrelas, “…I Love You..” soa de forma hipnótica, soa a trip, soa a um estado de espírito transcendente…
«Hallelujah» foi tornada maravilha do mundo na sua voz.
A sua beleza estonteante contrasta com o peso emotivo da voz de JB. A sua voz toca-nos, inspira-nos, faz-nos chorar, rir, dá-nos esperança, dá-nos um momento de introspecção. É transparente, é transcendente. É Imortal. Leonard Cohen deu ao mundo a matéria, mas a obra-prima é de sua autoria. Quando deixamos de chamar cover para versão é porque algo de bom se proclama. Pois bem , eu proponho uma adição do sufixo –ão a versão para dar um ênfase ainda maior. Era no mínimo merecido.
Dando continuidade ao tom mais emotivo, «Love You Should’ve Come Over» é uma lição para músicos da nova geração, sem fugir demasiado à linha de um blues pop-rock, consegue demonstrar certas influências que as bandas que ouvia no passado tiveram no seu percurso musical. Tal como noutros temas, é de certa forma visível um foco na voz de Robert Plant, no entanto as influências de distintos géneros musicais são mais do que visíveis em todo o álbum.
«Corpus Christi Carol» tira as dúvidas, este é mesmo um trovador. Quem no seu perfeito juízo arriscaria em composições do séc. XXVI num álbum de estreia, sem género definido?
A resposta é óbvia, e mais uma vez, é de abalo que nos rendemos. É mais um “olha o que eu sou capaz de fazer” do que uma benesse para Grace como álbum. Os Dotes vocais são incontestáveis, mas se há um momento a dispensar, este seria o único… a custo! «Eternal Life» vive o anos 90, sedentos de garra e de alienação, de espírito rebelde, de grunge-o-mania . É o ponto alto em termos rítmicos, de onde mais uma vez se relembra a incrível banda que o acompanhava.
A fechar, ao som de percussões e de pratos que relembram de certa forma o clássico «Planet Caravan» do grande Paranoid dos Black Sabbath, este «Dream Brother» é mais um reflexo da vida nada facilitada de Jeff Buckley e de toda a sua relação com o pai. O alarmismo deste tema toca mais uma vez à fuga de responsabilidades e à entrega à ruína. As palavras proferidas ao longo de Grace têm um tom tão biográfico que abala de certa forma o nosso mundo.
Um álbum sincero, onde Jeff, incrivelmente, consegue transmitir toda a qualidade como músico e como compositor. A letra é pesada, cheia de carga emotiva. Um reflexo de vivência, um respirar de alívio, e um apelo de esperança. Os três num só.
Jeff Buckley viveu muito o pouco tempo que teve.
Este é o único álbum de estúdio do músico e compositor. Grace tem vindo cada vez mais a ser reconhecido como sendo de culto, não só pela crítica como pelo público, que dentro dele encontra várias referências musicais assinaláveis. Nomes como Robert Plant e Jimmy Page (Led Zeppelin) , assim como David Bowie fizeram questão de deixar a sua opinião bem presente, citando que este se trata de um álbum maravilhoso e imprescindível nas listas dos melhores de todos os tempos. Thom Yorke (Radiohead) por sua vez admitiu que um dos maiores hinos da música indie/ alternativa , «Fake Plastic Tree», é composto com várias influências vocais de Buckley.
Jeff Buckley é um verdadeiro músico. Da música vêem as suas origens.É em Tim Buckley que tudo começa. O pai do músico era também ele outro tal, sendo relativamente conhecido. Também ele falecido com apenas 27 anos, nunca manteve uma relação para com o filho desejável, e para compreender Grace é inevitável percorrer o percurso familiar do seu autor.
Não se revelam histórias do passado nem opiniões, apenas sentimentos. O afastamento que Jeff manteve do pai durante anos ditou tanto a sua personalidade como a sua música.
Jeff não queria soar como o pai. Não queria cair na tentação de limitar a sua criatividade. Não queria cair nos mesmos erros …A heroína roubou-lhe o pai distante.
«Mojo Pin» inicia a sequência que tira o fôlego a qualquer um. O tom psicadélico dos versos sussurrantes de Jeff dá lugar a um prolongar dos dotes vocais do mesmo na ponte para o sentido refrão.Este tema representa toda a envolvência doentia de vícios insaciáveis, das pessoas às drogas.
«Grace» dá continuidade à incrível composição partilhada nestes dois primeiros temas com Gary Lucas. A banda que fica de certa forma à sombra do icone Buckley é de qualquer forma um bem mais do que essencial nesta magnífica produção. Um tema que puxa pela veia mais rockeira do trovador que é acompanhado pelo excelente trabalho de bateria e por alguns “flangers” a dar o efeito de loop ao rebentar da coisa. Um dos temas mais celebrados e compreende-se bem porquê. Mais uma vez a canção toca e as letras são o estandarte perfeito. Dedicada ao sentimento de imortalidade que a paixão lhe dava, Jeff celebra a vida enquanto pode…
A escolha de temas, a busca de inspiração nas pequenas/grandes coisas da vida… a forma como as torna possível – tudo isto prova a genialidade de um jovem com pouco mais de duas décadas. O risco que tomou faz dele um herói da música contemporânea.
«Last Goodbye» é um verdadeiro rasgo de música pop-rock de qualidade. Se do outro lado do pacífico estamos habituados a tudo em grande, tudo bem , Hard Rock, JB representa a simplicidade como fórmula de sucesso. Um tema que muito boa gente gostaria de ter composto ainda nos dias que correm. A ele se entrega o prémio do tema mais aplaudido da banda como single. Os riffs orelhudos deixam escapar os agudos de Jeff que soam incrivelmente seguros. A voz é cristalina e não falha uma única nota. Desafia as suas capacidades a cada compasso , e não teme cair na histeria. Uma das melhores vozes de todos os tempos, não haja qualquer tipo de dúvida.
Esqueçam qualquer balada que ouviram até ao primeiro segundo deste tema. Escondida numa certa timidez, «Lilac Wine» demonstra a verdadeira noção de fragilidade e de beleza, pura e incorruptível . Num tom de voz que não destoaria num Freddy Mercury, traz algo de novo ao álbum. Traz a rendição do ouvinte e a prova de toda uma cultura musical incontestável mergulhada num mar de referências, que neste caso foi até Hope Foye buscar este tema de um musical com mais de meio século. Eterno.
«So Real» soa “so indie” que obriga-nos a verificar as tais influências que este transmitiu a bandas como Radiohead. Composta num simples rasgo de espontaneidade a meio da noite – de uma só vez apenas. A secção rítmica, aliás o refrão...Estonteante. Os pequenos arranjos de produção estão cinco estrelas, “…I Love You..” soa de forma hipnótica, soa a trip, soa a um estado de espírito transcendente…
«Hallelujah» foi tornada maravilha do mundo na sua voz.
A sua beleza estonteante contrasta com o peso emotivo da voz de JB. A sua voz toca-nos, inspira-nos, faz-nos chorar, rir, dá-nos esperança, dá-nos um momento de introspecção. É transparente, é transcendente. É Imortal. Leonard Cohen deu ao mundo a matéria, mas a obra-prima é de sua autoria. Quando deixamos de chamar cover para versão é porque algo de bom se proclama. Pois bem , eu proponho uma adição do sufixo –ão a versão para dar um ênfase ainda maior. Era no mínimo merecido.
Dando continuidade ao tom mais emotivo, «Love You Should’ve Come Over» é uma lição para músicos da nova geração, sem fugir demasiado à linha de um blues pop-rock, consegue demonstrar certas influências que as bandas que ouvia no passado tiveram no seu percurso musical. Tal como noutros temas, é de certa forma visível um foco na voz de Robert Plant, no entanto as influências de distintos géneros musicais são mais do que visíveis em todo o álbum.
«Corpus Christi Carol» tira as dúvidas, este é mesmo um trovador. Quem no seu perfeito juízo arriscaria em composições do séc. XXVI num álbum de estreia, sem género definido?
A resposta é óbvia, e mais uma vez, é de abalo que nos rendemos. É mais um “olha o que eu sou capaz de fazer” do que uma benesse para Grace como álbum. Os Dotes vocais são incontestáveis, mas se há um momento a dispensar, este seria o único… a custo! «Eternal Life» vive o anos 90, sedentos de garra e de alienação, de espírito rebelde, de grunge-o-mania . É o ponto alto em termos rítmicos, de onde mais uma vez se relembra a incrível banda que o acompanhava.
A fechar, ao som de percussões e de pratos que relembram de certa forma o clássico «Planet Caravan» do grande Paranoid dos Black Sabbath, este «Dream Brother» é mais um reflexo da vida nada facilitada de Jeff Buckley e de toda a sua relação com o pai. O alarmismo deste tema toca mais uma vez à fuga de responsabilidades e à entrega à ruína. As palavras proferidas ao longo de Grace têm um tom tão biográfico que abala de certa forma o nosso mundo.
Um álbum sincero, onde Jeff, incrivelmente, consegue transmitir toda a qualidade como músico e como compositor. A letra é pesada, cheia de carga emotiva. Um reflexo de vivência, um respirar de alívio, e um apelo de esperança. Os três num só.
Jeff Buckley viveu muito o pouco tempo que teve.
É um dos melhores álbuns de sempre, de um dos melhores músicos de sempre. A voz e o toque de guitarra são inconfundíveis! Quem faz música assim merece uma estátua! De facto, fica a questão: até onde poderia ter ido?!
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