Poeta pintor, poeta repórter
Cesário Verde é um poeta do século XIX que se enquadra na estética realista, ainda que nas suas produções poéticas esteja presente a influência de outras correntes como o Parnasianismo, o Impressionismo e o Surrealismo. Para o autor, o mundo externo conta de modo pimacial , e é através da "descrição" deste mundo (mutável e miscelâneo) que lhe podemos conferir a designação do poeta repórter e poeta pintor.
Por Irene Leite
Recorrendo ao poema , "Num Bairro Moderno" , podemos confirmar esse gosto pela descrição: "Dez horas da manhã; uma casa apalaçada ; pelos jardins estancam-se as nascentes". Ao descrever e relatar esta paisagem , o autor recorre à técnica cinematográfica do corte e da montagem de acontecimentos justapostos, ressaltando-se o seu carácter deambulatório , o que nos leva à conclusão de que Cesário Verde é um poeta repórter.
No entanto, a sua poesia caracteriza-se também pela existência de uma intersecção entre objectividade e subjectividade . Ou seja, a articulação entre o real (realismo) captado e as sensações (impressionismo) que despertam no poeta.
De facto , o impressionismo é fulcral, já que a poesia Cesariana só atinge plena expressão quando complementada pela visão pictórica. Para Cesário, o elemento cor é essencial e por vezes surge como hipálage :"... os teus cabelos loiros; luziam com doçura honestamente".
No poema, "De tarde" , evidencia-se o carácter pictórico em que predomina uma linguagem plástica de captação do real: "em todo o caso dava uma aguarela; A um ganzoal azul". Assim, o autor pinta o mundo que descreve (poeta pintor).
Em suma, Cesário assume nos seus poemas a posição de repórter atento ao mundo exterior , que o "marca" , ao ponto de o pintar.
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