Um filme marcante com algo de estranho dentro
Amor é seguramente a palavra que perdura no seu enredo, mas violência também. Violência física e psicológica contra alguém que tem o dom de falar através da música e que por ela se sujeita a se subjugar. O PIANO, um drama dirigido pela neozelandesa Jane Campion.
Por Gabriela Chagas
Originalmente publicado a 11 de Novembro de 2010
Com uma banda sonora de arrepiar, este filme dos anos 90 retrata a sofrida trajectória de Ada McGrath, uma mulher que não fala desde os seis anos de idade.
Mas o percurso sofrido de Ada não termina por aqui, pois o verdadeiro pesadelo só começa quando fixa residência na Nova Zelândia para casar com alguém que não conhece.
Com ela leva a música. O Piano é a sua bagagem, a sua voz e a sua obsessão. E sofre quando o deixam junto à praia na hora das mudanças.
O noivo Alisdair Stewart não percebe que é através do piano que a jovem comunica, não entende que ali está a sua alma e que por isso deixar este instrumento é também desistir dela e perdê-la antes de a ter. E perdeu. Casaram, mas ele nunca a teve.
Exerceu sobre ela uma violência psicológica, nunca cedendo ao seu pedido de recuperar a música, sempre a música.
Já George Baines (o administrador) interessa-se pela jovem e percebe que o piano é a chave para a conquistar. Contudo, nestes seus avanços também ele exerce uma espécie de violência emocional. Adquire o instrumento e promete devolvê-lo caso ela lhe ensine a tocá-lo.
Mas George Baines quer tudo menos aprender a tocar piano. Baines quer Ada e propõe-lhe isso mesmo, fazendo-a subjugar-se a essa vontade em troca de teclas do seu amado piano, sempre o piano. A sua alma.
Nesta mistura de desejo e violência escondida nasce o amor, e é nessa fase que Baines decide devolver o piano: “O piano faz de si uma prostituta e de mim um desgraçado. Eu quero que goste de mim mas você não consegue”.
Na verdade, ela já conseguiu, percebe isso e entrega-se.
O marido descobre e o filme leva-nos novamente para a violência, física e psicológica. Corta-lhe um dedo, parte-lhe o piano e destrói-lhe os sonhos.
Choca esta violência constante exercida sobre esta mulher, um espelho de muitas realidades ainda hoje, em pleno século XXI, presente na vida de tantas "Aidas".
Há uma mistura de sentimentos: Há amor dentro. Há ciúme, há raiva, há paixão, há desejo. Termina com a vitória do amor, ou do que se parece , com a união de Ada e Baines. O Piano é atirado ao mar e os dois partem para uma nova vida.
O Piano, com banda sonora de Michael Nyman, tem tudo o que um filme de drama precisa para ter sucesso. E este teve. É considerado um dos expoentes do cinema da década de 1990.
Ganhou vários prémios, entre eles a Palma de Ouro do Festival de Cannes, em 1993, com destaque para a realizadora Jane Campion e para a actriz Holly Hunter, a grande protagonista que ao longo do filme tocou verdadeiramente O Piano.
Confira o trailer:
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