Uma nova versão de um clássico pode tornar-se num clássico em si mesmo… Uma canção de embalar pode converter-se num mega-hit de rock and roll… E mesmo no pico do Inverno podemos sentir o calor de um campo de algodão do sul negro dos E.U.A…. Tudo isto, e muito mais, em Summertime, a ária-folk transformada pelo toque de génio de Janis Joplin, mais uma vez em Modo Classic Rock.
Por Maria Coutinho
Originalmente publicado a 15 de Dezembro de 2010
Baseado no texto original de DuBose Heyward, Porgy and Bess é a ópera-folk que resultou do trabalho conjunto de George e Ira Gershwin - irmãos, compositor e letrista - em colaboração com Heyward, co-autor das letras. Nesta obra harmonizam-se na perfeição os sons afro-americanos do jazz, blues, gospel e soul com um estilo cénico mais musical. Levada à cena pela primeira vez em 1935, as estreias, em Boston e Nova Iorque, não obtiveram grande sucesso - nem perante a crítica, nem no que respeita a vendas de bilheteira.
A peça só conquistou o grande público a partir de 1959, após a adaptação cinematográfica que contou com um elenco de luxo, de onde se destacam os nomes de Sidney Poitier e Sammy Davis Jr.. A partir daí, o sucesso disparou e os temas de Porgy and Bess tornaram-se conhecidos de todos.
Summertime, a canção de embalar cantada no acto I, e repetida mais algumas vezes ao longo da peça, acaba por ser a ária mais emblemática de toda a obra. Conhecem-se mais de 23.000 diferentes versões deste tema: desde instrumentais, como a obrigatória versão de Miles Davis, em que a letra cantada é substituída pela “voz” do trompete do mestre, às muitas tonalidades de vocalização, das quais sobressaem nomes tão grandes quanto os de Billie Holiday (a primeira a chegar aos tops), Nina Simone, Sam Cooke, John Coltrane, Frank Sinatra e Janis Joplin.
Na voz de Janis, Summertime parece ganhar asas e voar com vida própria, quase um improviso, todo ele alma, todo ele soul e blues, com uma guitarra que lembra uma peça clássica, quase um barroco, e uma outra a solar com distorção… Tudo isto com um “groove” próprio de uma grande banda de rock – como de facto o era a Big Brother and the Holding Company.
Editado em 1968 pela Columbia Records, Cheap Thrills é o último álbum de Janis com os Big Brother. A editora vetou tanto a capa como o título originais propostos pela banda, decerto em nome dos bons costumes que os americanos tanto prezam.
Em causa estavam um desenho de Robert Crumb, cartoonista, onde todos os elementos da banda apareciam nus numa cama, e o inspirado título “Sex, Dope and Cheap Thrills” (Sexo, Narcóticos e Emoções Baratas). A pedido de Joplin a capa acabou mesmo mesmo por sair da pena de Crumb , e foi considerada pelos leitores da Roling Stone como uma das dez melhores capas de disco de sempre.
Summertime foi um dos temas com que Janis encantou no festival de Woodstock. Foi também a última música do último espectáculo que os fãs puderam ver e ouvir ao vivo, em Agosto de 1970. Em Outubro desse mesmo ano a rainha do rock/folk/blues psicadélico partiria na sua última viagem de heroína, da qual não iria regressar com vida….
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