Avançar para o conteúdo principal

Espaço The Indies

 
Da Vinci, dos Eurythmics portugueses à “conquista” da Eurovisão!

Em 1989 os Da Vinci protagonizaram um dos mais interessantes momentos da música portuguesa, que convido-vos a recordar.
Por Bruno Vieira

 O país depositou nos Da Vinci a esperança da primeira vitória no Eurofestival da canção que, naquele ano, iria realizar-se em Lausanne, Suiça. A razão não era para menos, para os standards pop a música era orelhuda e a imagem: a de um Portugal moderno, mas orgulhoso do seu passado. Apesar dos tempos de ouro (Anos 60 e 70) em que todo um Portugal ficava especado em frente ao televisor, o que é certo é que apesar de um ligeiro decréscimo de popularidade na segunda metade dos Anos 80, a edição de 1989 do Eurofestival, foi provavelmente a última a entusiasmar verdadeiramente os portugueses.

Quanto mais se eleva a fasquia, maior a queda. Resultado: um flop! (16º lugar em 22 e apenas 39 pontos!). Motivo provável para o fracasso: o sistema, ou seja, os habituais lobbies que Portugal nunca soube contornar e muito provavelmente, o facto dos Da Vinci não terem cantado em inglês (pelo menos parte da letra), como fizeram os Riva, representantes da Jugoslávia e vencedores desse ano, embora a canção portuguesa em nada ficasse a dever ao muito festivaleiro "Rock me" dos jugoslavos.

"Conquistador" tinha tudo o que uma boa música pop podia ter: ritmo, baixo a condizer, potente batida electrónica a marcar o ritmo e uma actuação cheia de confiança por parte de toda a banda. Parecia que Portugal nunca estivera tão perto de conquistar um resultado histórico, mas foi aquilo que se viu.
De volta ao início e aos " Eurythmics portugueses". Apesar de pecar por excesso, esta afirmação não anda tão longe da realidade como se possa pensar. Quer em termos musicais quer em termos estéticos estas duas bandas tiveram alguns pontos comuns.

 Em 1982 "Hiroxima Meu Amor" pode bem ter sido o "Sweet Dreams" dos Da Vinci, com o som electropop do início dos 80s bem presente em ambas as músicas. É de assinalar também o protagonismo dos duos Lennox/Stewart e Lei Or/Pedro Luís em ambas as bandas. Quando comparados com os nossos Da Vinci, a carreira dos Eurythmics foi muito mais relevante, regular e mediática, o que não é de estranhar face à natureza e dimensão dos mercados discográficos em questão.  

Formados em 1982 por Pedro Luís, Lei Or e João Heitor, adoptaram uma imagem futurista e um som electropop ao melhor estilo da New Wave. As semelhanças musicais com bandas como Eurythmics, The Human League, Thompson Twins ou Blancmange eram evidentes.
Do primeiro álbum "Caminhando" de 83, há a destacar o single "Hiroxima meu amor" lançado no ano anterior (que chegou a disco de prata) e “Lisboa Ano 10.000”. 

Pelo meio são editados alguns singles sem grande sucesso comercial, bem como o álbum “A Jóia no Lótus” em 88, até que chega "Conquistador" um ano depois. Por esta altura a banda era formada por Lei Or e Pedro Luís (núcleo central), pelo guitarrista Ricardo, pelo baterista Joaquim Andrade e pelas irmãs Sandra e Dora Fidalgo nos Coros.

Os Da Vinci vencem o Festival RTP da Canção e representam Portugal na Eurovisão. Apesar de uma classificação muito aquém das expectativas, o sucesso comercial por cá foi enorme. 


O single “Conquistador” chega a disco de platina e o álbum homónimo, lançado também nesse ano, atinge a assinalável marca de disco de ouro. Ainda em 89, o single "Baby (foi tudo por amor)" pode considerar-se um êxito menor. 

A carreira dos Da Vinci conheceu ainda mais quatro álbuns, “A Dança dos Planetas” de 1990 (com os singles “Nasci em Portugal” e “Num Tapete Voador”), “Entre o Inferno e o Paraíso” de 1993 (que incluía a single “Tirem-me deste Filme”), “Oiçam” (1995) e “Momentos de Paixão” (1999), que passaram praticamente despercebidos e uma compilação "Conquistador - Dança dos planetas" editada em 1990. 

O grupo regressou aos palcos em 2003, com o espectáculo “Nocturnas”, baseado em temas inéditos. Participaram ainda no programa da passagem de ano de 2007/2008, “Diz que é uma espécie de Réveillon” dos Gato Fedorento.

O chavão  “One Hit Wonder” poderá ser excessivo pela sua carga pejorativa, mas de facto os Da Vinci não andaram muito longe desta realidade, com dois grandes êxitos "Hiroxima meu amor", "Conquistador" e pouco mais.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Citizen Kane na Máquina do Tempo

Link da imagem Texto original: Miguel Ribeiro Locução: Irene Leite Adaptação e Edição: Irene Leite

REM no vídeo do mês

 Link da imagem Decorria o ano de 1985 quando pela primeira vez se ouviu o tema “Bad Day” num concerto dos REM em Nova Iorque. Contudo , só 18 anos mais tarde foi editado, tendo surgido na compilação de 2003, “In Time: The Best of REM 1988-2003”. Ainda que originalmente produzida em meados da década de 80, esta música manteve-se actual, tanto no som, como na letra crítica à sociedade americana. Por Carmen Gonçalves Originalmente dominado de “PSA”, uma abreviatura para “Public Service Announcement”, este tema surgiu como uma crítica às políticas do presidente dos Estados Unidos, Ronald Regan. Embora não tenha sido editado, foi o mote para o lançamento em 1987 de “ It's the End of the World as We Know It (And I Feel Fine) ”, um tema com uma cadência similar, que teve um estrondoso sucesso. A parecença dos dois temas não se centra só na letra cáustica de crítica à sociedade americana. Ao escutarmos o ritmo e a sonoridade de ambas, não se pode deixar de verificar as

Roquivários no Luso Vintage

Link da imagem O início da década de 80 ficou marcado pelo aparecimento de diversas bandas rock no panorama nacional. A causa foi o estrondoso sucesso do álbum de estreia de Rui Veloso “Ar de Rock” que abriu caminho para novas bandas emergirem. Umas singraram na cena musical, até aos dias de hoje, caso é dos Xutos & Pontapés, UHF ou GNR, enquanto outras ficaram pelo caminho, após algum sucesso inicial. Destas destacam-se os Roquivários que encontraram no tema “Cristina” o seu maior êxito junto do público.    Por Carmen Gonçalves A banda formou-se em 1981 no seguimento do “boom” da cena rock, sob o nome original de “Rock e Varius”. Esta designação pretendia reflectir as influências musicais que passavam por vários estilos, não se cingindo apenas ao rock puro e duro. A música pop, o reggae e o ska eram variantes fáceis de detectar no seu som, e que marcaram o disco de estreia , “Pronto a Curtir”, editado em 1981.   Apesar de a crítica ter sido dura com o trabalho