Baseado na novela gráfica homónima de Frank Miller, Sin City é um filme perfeito no que à sua génese é importante: ser uma completa transladação dos contos presentes na fonte. Mas será que este pressuposto significa que estamos perante uma grande obra?
Por Miguel Ribeiro
Originalmente publicado a 2 de Dezembro de 2010
Realizado por Robert Rodriguez e Frank Miller, Sin City contou também com a participação especial de Quentin Tarantino, assim como uma lista estelar de actores como Bruce Willis, Mickey Rourke, Clive Owen, Benicío Del Toro, Jessica Alba, Rosario Dawson, entre outros.
Baseado em três contos presentes na novela gráfica, “The Hard Good-Bye” , “The Big Fat Kill” e “That Yellow Bastard” a película contou ainda com um pequeno conto de nome “The Customer is Always Right” que serviu de prólogo e epilogo ao filme.
Claramente inspirado em filmes como Pulp Fiction no que toca à montagem, cada sequência conta com uma personagem máscula, com o objectivo de proteger ou vingar alguém, sempre seguido pela narração voz-off, personagens questionando-se sobre a sua força ou capacidade de continuar, com algumas tiradas ligadas ao humor negro, e violência extremamente estilizada, tipíco do próprio autor Frank Miller.
A palavra cool está presente em todos os planos e pequenas nuances dadas, tanto pelos actores, através da actuação e da narração, como pela montagem do filme. Os close-ups às faces das personagens acentuando uma frase ou uma voz-off, o fumo saindo do cigarro, os olhares das personagens, a violência e as mulheres com os seus corpos perfeitos e curvilíneos ajudam a compor um cenário intenso. A atmosfera está credível , a imagem e o estilo são realmente reis nesta obra literalmente trazendo à vida a novela gráfica do mesmo nome.
Robert Rodriguez quis criar uma transladação da novela gráfica e não uma adaptação. Podemos discutir se existe alguma redenção nas personagens de Hartigan (Bruce Willis) e Marv (Mickey Rourke), mas o foco principal do filme são as estórias, embrulhadas num trabalho visual de primeira categoria, com personagens cliché e cartoonescas, claramente inspiradas pelo ”film noir” e pelo mundo das novelas gráficas , em que o objectivo é o entretenimento.
Existem filmes que já tinham explorado este estilo visual , como Pleasantville ou A Lista de Schindler , mas é em Sin City que este contraste entre o preto e branco e o uso pontual de outras cores para acentuar determinadas cenas assume total foco.
Sin City foi um dos primeiros filmes (Sky-Captain and The World of Tommorrow, Immortel, Casshern) em que se filmou toda a película sobre green-screen, usando câmaras digitais de alta-definição Sony HDC-950 e com apenas três cenários construídos “à mão”.
O resultado final impressionou muitos críticos aquando a sua saída, pela veracidade da interacção entre as personagens e o ambiente que as envolvia. Impressionante reparar que algumas cenas de acção do filme foram filmadas sem que alguns actores alguma vez se tivessem encontrado no set, como as cenas envolvendo Mickey Rourke e Elijah Wood.
Antes de terminar, o porquê de Quentin Tarantino ter filmado uma das cenas do filme, nomeadamente, a sequência do carro entre Benício Del Toro e Clive Owen. Aparentemente, Robert Rodriguez fez a banda sonora de Kill Bill: Volume 2 por apenas um dólar! Como favor, Tarantino prometeu a Rodriguez que filmaria uma cena do seu próximo filme também por apenas um dólar. Tarantino ficou contente com o resultado e foi a primeira vez que filmou totalmente em digital, visto que é um acérrimo defensor do uso da película sobre o digital.
Existem imensas críticas díspares sobre esta obra de Rodriguez. Ela reflecte, em grande parte, uma nova geração de ver cinema, em que a violência já não impressiona muito, mas em que também a própria audiência já aprendeu a não a levar muito a sério, quando esta é obviamente ficional e apresentada numa tela a duas dimensões.
Aqui temos uma grande obra é verdade, mas porque o que se decidiu fazer desde o início foi atingido em todos os níveis, alcançando as expectativas que se tinham sobre o filme. Poderemos discutir se faz parte de um post-noir ou discutir a embalagem e a integridade intelectual da escrita presente.
Mas qualquer discussão à volta dos méritos e deméritos do filme (não os encontro a não ser os habituais erros de continuidade, e outros erros pontuais, normais numa película) irá esbarrar contra a parede que é esta obra, contaminada por uma experiência visual ímpar, e uma estória que consegue entreter a todos os níveis. O que mais se pode querer de um filme de entretenimento?
Confira o trailer do filme:
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