A Brava Dança dos Heróis
Estávamos em 1981 e em plena ressaca pós-revolucionária quando Pedro Ayres (baixo), Carlos Maria Trindade (teclas) e Paulo Pedro Gonçalves (guitarra) do extinto Corpo Diplomáticojuntam-se a Tozé de Almeida (baterista) oriundo dos Tantra e Rui Pregal da Cunha (voz) para formar os Heróis do Mar. Hoje no Luso Vintage.
Por Susana Terra
A escolha do nome do grupo não é de todo inocente e desde logo foi polémica ,uma vez que Ayres e Gonçalves, ao pretender que a sua banda representasse a história e cultura lusa, escolheram precisamente o primeiro verso do hino nacional. Na mesma medida, o primeiro visual eleito pelo grupo, como a adopção de símbolos da bandeira monárquica e as letras de algumas canções também não geraram opiniões consensuais dado o seu teor nacionalista, neo-militarista e de glorificação de um Portugal do passado que causava ainda algum impressão nas recentes memórias do findo período fascista.
O “sal” que os Heróis do Mar introduziram nas chagas abertas de parte do povo português gerou em torno do grupo uma aura conotada com o fascismo e neonazismo, razão pela qual foram proibidos de actuar a sul do Tejo durante dois anos.
Polémicas à parte, o pop-rock dos Heróis do Mar trouxe uma singular sonoridade ao panorama musical português, aliando no início as raízes da música nacional ao neo-romantismo britânico (Duran Duran, Spandau Ballet). Estávamos perante uma new wave em língua de Camões.
Em 1981 após alguns meses de ensaio lançam os singles “Saudade”, “A Brava Dança dos Heróis” e “Magia Papoila” do homónimo EP de estreia , que conta também com o single “Amor”, lançado em 1982 e primeiro grande sucesso da banda, tendo inclusive alcançado o disco de platina. Nesse mesmo ano, abrem os concertos de Roxy Music e King Crimson, iniciando assim o seu percurso internacional.
No ano seguinte (1983) é lançado o disco “Mãe” que apesar da boa recepção por parte da crítica, não conquista o público. Redimem-se com o single “Paixão” , que para além de ter sido um esmagador sucesso no airplay das rádios, catapultou os Heróis do Mar para um novo patamar de sucesso, tendo sido considerados pela revista The Face como um dos dez melhores grupos de rock da Europa.
Corre o ano de 1984 quando surge o mini-álbum “O Rapto” que contém a deliciosa canção “Só gosto de ti” e marca a inversão na estética da banda, que adopta um visual marcado pelos jeans rasgados e muito cabedal, mas ainda demasiado arrojado para as mentalidades de então.
Em 1985 sai o single “Alegria” que conquista um respeitável sucesso comercial, colaboram no álbum “Dar e Receber” de António Variações e partem para Macau, sendo a experiência por lá vivida, vertida para um álbum com o mesmo nome, em 1986. Dois anos mais tarde editam o seu último álbum “Heróis do Mar” e dão o último concerto em Outubro de 1989.
Há já algum tempo os membros dos Heróis do Mar haviam enveredado pela criação de outros projectos – Ayres assume a produção dos discos dos Delfins, Né Ladeiras e Anamar e fundou os Madredeus e Resistência; Gonçalves e Pregal da Cunha fundaram os LX-90 (depois denominado de Kick out of the Jams, em Inglaterra); Gonçalves enveredou depois pelo negócio do vestuário com muito sucesso; Tozé Almeida fundou a sua empresa de produção publicitária e televisiva; Trindade dedicou-se à edição e produção de discos de várias bandas nacionais.
Heróis do Mar, ou como as ondas do tempo arrastam para o esquecimento tão próspera e inovadora banda mas a espuma dos dias deixou ainda um espaço para algumas das suas canções que continuam a fazer-se ouvir actualmente.
A rever a estória da banda no documentário "Brava Dança", de Jorge Pereirinha Pires e José Pinheiro que, de acordo com a revista Blitz, "propõe ainda uma reflexão sobre Portugal e a música do pós-25 de Abril".
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