A famosa “série sobre nada” continua a ser transmitida nas televisões em todo o mundo desde finais dos anos 80. Porquê?O que fez com que ninguém ficasse indiferente a Seinfeld?
Por Miguel Ribeiro
Originalmente publicado a 23 de Dezembro de 2010
Originalmente publicado a 23 de Dezembro de 2010
Criada por dois comediantes ,Larry David e Jerry Seinfeld, esta série surgiu pela primeira vez no ar na NBC em 1989. Passada essencialmente no apartamento de Jerry (que interpretava uma versão ficionalizada dele próprio) esta envolvia também o seu “gangue”, protagonizado por George Constanza (Jason Alexander), Elaine Benes (Julia Louis-Dreyfus) e Cosmo Kramer (Michael Richards).
Na altura em que surgiu, Seinfeld apresentou inovações ao nível da narrativa ,que não se tinha ainda visto em sitcoms. Usualmente este tipo de séries apresentava uma família ,onde em cada episódio existia um problema e estes tinham que resolvê-lo, sempre com uma moral a ensinar , fazendo com que a audiência sinta algum tipo de empatia pelas personagens.
Em Seinfeld, esta “regra” não se cumpre. As estórias desenvolvem-se à volta de trivialidades diárias da vida , como esperar na fila para ver um filme; tomar um café e conversar ou reclamar das pequenas coisas e injustiças que aparecem no nosso percurso.
Se repararmos, a série em si tem uma visão muito negativista da vida (provavelmente culpa de Larry David, criador e personagem principal da série Curb Your Enthusiasm). As quatro personagens principais não têm ligações de parentesco, são todos adultos solteiros sem grandes morais, regra geral os episódios não envolviam finais felizes, a não ser que fossem à custa da miséria de outrém e nunca aprendiam nenhuma lição ou evoluiam por terem cometido erros.
Do que se sabe da série, é que não se queria que se criasse grandes ligações emocionais com as personagens, havendo até uma frase que diziam os criadores: “No hugging, no learning” (nada de abraços nem aprendizagem).
Todas as quatro personagens principais são egocêntricas e hostis a todos os que entram no seu pequeno círculo. Há sempre um ponto na série, em que uma personagem secundária que foi introduzida, irá desaparecer devido a algum sarilho em que George, Elaine, Kramer ou Jerry se tenham envolvido e não queiram dar o braço a torcer.
Mas talvez por isso é que se tornaram tão mágicas para nós, audiência. Vemos estas pessoas a seguirem o seu caminho, representando pequenas características que revemos em nós próprios e nos outros, normalmente sempre negativas como, mesquinhez, inveja, egocentrismo, desonestidade, futilidade, entre outras, mas que como está num pacote de comédia não deixamos de querer ver o próximo episódio e as peripécias em que se vão envolver.
Será que George vai finalmente deixar de ser um falhado e alcançar sucesso? Será que Elaine vai finalmente encontrar o homem da vida dela? Qual será a próxima mesquinhez que Jerry apresentará para acabar com uma namorada? Como será a próxima entrada de Kramer em casa de Jerry? Nós sabemos sempre a resposta a estas perguntas, mas nem por isso deixamos de ver o episódio que segue.
Talvez por isso seja a série que há mais tempo é repetida na televisão norte-americana e essencialmente no resto do mundo. Nunca cansa ,porque representa uma faceta de nós mesmos. Aquele lado negro que nunca ninguém quer ver expresso, mas que ás vezes acontece, e que assim como na série, tem algum tipo de consequência (ver último episódio) tal e qual como acontece connosco na realidade.
Para recordar:
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