Luzes, câmaras, acção. Na Máquina do Tempo desta semana o senhor por detrás da câmara de filmar é Hitchcock, com Marnie, filme de 1964. Um inquietante thriller com Tippi Hedren e Sean Connery nos papéis principais.
Por Adriano Marques
O filme conta a história de Marnie Edgar (Tippi Hedren), uma mulher com graves problemas psicológicos (medo e a desconfiança dos homens, trovoadas, e cor vermelha) que se envolve no roubo de uma empresa. Certo dia, a problemática mulher procura emprego na empresa de Mark Ruthland (Sean Connery) , que apesar de saber o que ela fez no anterior trabalho, oferece-lhe uma oportunidade.
Neste enredo, com uma mistura rica em dimensões psicológicas e sociológicas, o momento mais alto é o casamento por conveniência proposto por Mark, em troca de Marnie não ir para a prisão.
Ao abrigo desta nova relação, Mark ajuda-a a libertar-se de traumas passados, nascendo uma ligação mais forte entre os dois, em que o marido desempenha de forma bem sucedida, mas ao mesmo tempo perversa, os papéis de terapeuta e parceiro.
Para além de esta narrativa girar à volta de Marnie, com o mistério sobre a sua identidade e as intrigas do roubo e falsas identificações, (uma configuração clássica de Hitchcock) esta obra surpreendeu mais pela forma como se nota uma certa exploração do passado da personagem, e na possibilidade enquanto espectador de “criar” a personagem com a nossa própria imaginação.
Se em 1960, Psycho permitiu Hitchcock ganhar algum poder de sugestão e da época de códigos de permissividade ao seu limite, neste trabalho ele voltou a demonstrar aspectos que estava à frente do seu tempo. Ao contrário de dramas anteriores, que envolviam histórias de romance, Hitchcock conseguiu aqui falar de temas freudianos e psicanalíticos. Sem dúvida, aqui Marnie é um exemplo muito claro e bom de como o realizador usa todo o complexo de elementos do filme para criar efeitos, de tal forma que o resultado será "cinema puro" - o que era o ideal de Hitchcock.
E não deixa de ser curioso como em Marnie apesar de ser utilizada uma temática pouco explorada nos anos 60 e deixar algumas pessoas desconfortáveis quanto à sua mensagem, a verdade é que este filme geriu um lucro de quatro milhões de dólares nas bilheteiras, o que não é nada mau para aquela altura.
Realizado por Alfred Hitchcock, e baseado no livro de Winston Graham com o mesmo nome. Elenco: Tippi Hedren (Marnie Edgar), Sean Connery (Mark Rutland), Diane Baker (Lil Mainwaring), Martin Gabel (Sidney Strutt) e Louise Latham (Bernice Edga). Argumento de Jay Presson Allen.
Comentários
Enviar um comentário