Avançar para o conteúdo principal

Iggy and The Stooges em Modo Classic Rock



Ninguém esperaria ouvir, em plenos anos sessenta, um grito de revolta contra o aborrecimento. Estávamos em plena era hippie. Make love, not war… Por isso, também ninguém esperava ver surgir uma figura como Iggy Pop na América das flores no cabelo… “No fun” é uma espécie de premonição do movimento Punk que despontaria na década seguinte…e que hoje nos bate à porta.

Por Maria Coutinho
Originalmente publicado a 22 de Dezembro de 2010 

The Stooges  foi a primeira banda que gravou com a voz de Iggy Pop (nesta altura era Iggy Stooge), mas é também o título do álbum que, em 1969, a Elektra Records lançou, com arranjos do mesmo John Cale que conhecemos nos Velvet Undergound. Na altura não terá causado grande impressão, pelo menos a avaliar pelos fraquíssimos resultados de vendas. Mas com o passar do tempo impôs-se como um dos maiores álbuns de estreia de sempre na história do Rock.


 Há um mito urbano acerca deste álbum: consta que a editora terá exigido mais material do que as cinco músicas que a banda apresentou para gravar. Mentindo para não perder a oportunidade, os músicos teriam assegurado que tinham muito mais composições para trazer no dia seguinte…

Uma noite de ensaios muito criativa deu origem aos restantes temas que acabaram por integrar o disco de estreia da banda ( "Real Cool Time," "Not Right" e "Little Doll"). Isto só foi possível porque o método de trabalho dos The Stooges constituía em compor peças de um a dois minutos e improvisar mais alguns minutos para completar.


Já nesta época havia algo de único nas performances de Iggy, um estilo de apresentação em palco que é inimitável, por mais que se possa detectar a sua influência em outros artistas até aos dias de hoje.


Reza a lenda que terá sido o inventor do “stagediving” e é bem famosa a sua capacidade de surpreender com contorcionismos pouco ortodoxos de sangue, suor e lágrimas, que vão desde a auto-mutilação à exibição de uma nudez que nenhuma mãe aprovaria, e que levam o público ao delírio. Uma liberdade artística que, segundo se diz, terá sido inspirada pela actuação de Jim Morrison num espectáculo dos The Doors a que Iggy assistiu em 1967.


A irreverência é, aliás, a imagem de marca de Iggy Pop. É toda uma postura que já era punk antes deste movimento explodir com a sua atitude, sempre do "contra". Em “No Fun”  Mr Pop responde a “Walk The Line”, o êxito em que um Johnny Cash recém-casado promete ser fiel e “portar-se bem”…


Mas para Iggy isso significa monotonia, aborrecimento, “no fun”… É a mesma atitude que leva os punks ingleses, anos mais tarde, a assumir que preferem uma vida curta, mas intensa, e certamente não foi por coincidência que os Sex Pistols gravaram a sua versão deste tema.


Nas exibições ao vivo , “No Fun” ganha uma dinâmica especial, a postura de Iggy Pop torna-se mais agressiva, a atitude de revolta mais patente…. É frequente ouvi-lo gritar repetidamente o título “No Fun”, que se converte numa espécie de palavra de ordem…Um grito de guerra inconfundivelmente punk. 

A recordar...



Comentários

Mensagens populares deste blogue

Pedro e os Apóstolos no Luso Vintage

Link da imagem O gosto pela música é universal, “Mesmo para quem não é Crente”, como diria Pedro e os Apóstolos, uma banda nascida em 1992 e que hoje tem o seu momento na rubrica Luso vintage do Som à Letra. Por Gabriela Chagas Pedro de Freitas Branco, um cantor, compositor e escritor português , que a par deste projecto ficou também conhecido por ter sido co-autor de uma colecção de aventuras juvenis, "Os Super 4", é o Pedro da história.   Reza a história que tudo começou numa tarde de Fevereiro de 1992, numas águas furtadas de Lisboa. O apóstolo Gustavo pegou nas congas, o apóstolo Soares ligou o baixo a um pequeno amplificador de guitarra, e o apóstolo Pedro agarrou na guitarra acústica. Não pararam mais nos quatro anos seguintes. Em 92 produziram eles próprios um concerto de apresentação aos jornalistas e editoras discográficas em Lisboa que despertou o interesse das rádios , que acreditaram no grupo. Em Julho de 1996 gravaram o seu primeiro disco, “Mesmo para ...

Citizen Kane na Máquina do Tempo

Link da imagem Texto original: Miguel Ribeiro Locução: Irene Leite Adaptação e Edição: Irene Leite

Aqui D´el Rock no Luso Vintage

Play Hard, die young   Link da imagem  Chegaram. Reinvidicaram.Terminaram. Foi assim o percurso dos Aqui D`el Rock, curto mas intenso. O grupo , formado há 34 anos,  fez escola no punk e acabou a fazer história no Boom do rock português nos anos 80. Para recordar no Luso Vintage desta semana.  Por Gabriela Chagas              Aqui d´el Rock viveu rápido e bem. Assim o descreve um dos seus membros, Óscar, a voz. “Nunca houve a questão de fazer uma carreira, uma repetição, um enjoo”, reforça.             Em conversa com o Som à Letra, Óscar explica que este grupo, que nasceu em 1977, acabou por ser reclamado pelo Punk, ficando mais próximo do punk de raiz americana do que do punk arty de raíz inglesa.  Uma caracterização que afirma ter sido reforçada recentemente com um comentário que leu numa publicação inglesa.      O...