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Espaço "The Indies"

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De acto de consumo generalizado, a compra de um Vinil ou CD, tem vindo cada vez mais a tornar-se num acto de culto praticado por uma espécie em vias de extinção.


O que está  a dar é ver a banda a tocar…

O mercado discográfico foi durante décadas suportado pela venda de álbuns em suporte físico, primeiro o Vinil, depois o CD, sem esquecer as Cassetes. Apesar da música ao vivo ser uma realidade mais antiga até que a própria música em suporte físico, nunca como hoje adquiriu tanta importância. A quantidade de pessoas dispostas a dar dinheiro por um bilhete de concerto já é muito superior àquela que prefere comprar um CD, ou mesmo fazer um download legal através da internet.

Por Bruno Vieira

Esta tendência que tem vindo a acentuar-se na última década, foi numa primeira fase motivada pela generalização da informática doméstica ao longo dos Anos 90, que facilmente permitiu qualquer pessoa fazer a sua cópia do disco original, e agravada na década seguinte quando a internet passou a ser uma realidade ao alcance de todos. Esta última terá sido a derradeira machadada final num mercado discográfico não isento de culpas por reagir tarde demais, ao contrário do que se verificou noutros países como o Reino Unido, onde para além do maior poder de compra, continua-se a consumir música a preços acessíveis.

Em Portugal não se tratou apenas do problema das pessoas não quererem comprar música, antes da reacção das mesmas ao seu elevado preço. É certo que por cá também se tem verificado ultimamente uma redução do preço dos CDs, mas peca por ser pouco abrangente e tardia. Já há pouco ou nada a fazer e dificilmente a crise do mercado discográfico será invertida. Nem mesmo os downloads legais serão suficientes para remediar o problema, a partir do momento em que se assumiu que a música é para piratear.

Todos concordamos então que a partir de uma necessidade económica tenha emergido toda uma nova geração avessa à compra de qualquer produto musical em suporte físico. Os mesmos que se recusam a dar 15€ por um CD, pagam em média mais para assistir a um concerto, fora outros extras. O que tem a música ao vivo para oferecer a mais?

Todas as crises geram oportunidades e o que se perde por um lado, ganha-se por outro e a música não é excepção, sem esquecer toda a máquina que alimenta, seja publicidade, patrocínios, merchandising, etc. O que estamos a assistir é o mercado a adaptar-se a um novo paradigma, tendência esta que terá começado em meados dos Anos 90 com a massificação da música ao vivo em Portugal.

A tendência dos últimos anos tem valorizado mais a “experiência”, numa atitude proactiva de busca de novas sensações, do que a passividade associada a rituais mais tradicionais, numa analogia directa entre assistirmos a um concerto ao vivo ou escutarmos música no conforto da nossa casa.

Assistir a um concerto tem de ser feito “in loco” e, ao contrário de um álbum, não é reproduzível. Se para uns a experiência maior é puramente musical, para outros será o ambiente, o convívio, já para não falar doutros excessos que por momentos levam muitos à procura de alguns momentos de escape, como fuga à rotina do dia-a-dia. Cada qual com as suas motivações, mas todos a contribuir para o mesmo, ou seja, a sobrevivência de uma indústria, mas sobretudo , dos seus protagonistas.

Outrora a viverem essencialmente das receitas da venda dos seus discos, os músicos de hoje olham para os concertos não só como forma de apresentar a sua arte, mas também como garante de sobrevivência. De acto de consumo generalizado, a compra de um Vinil ou CD, tem vindo cada vez mais a tornar-se num acto de culto praticado por uma espécie em vias de extinção. E quem não estiver disposto a pertencer a este clube jurássico, pode sempre dar o seu contributo doutra forma, ou seja, desfrutando da experiência única que só a música ao vivo proporciona. O que está a dar é ver a banda a tocar…

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