Amor Fúria e Flor Caveira - casas do novo rock português, concerteza
Os Golpes
Uma das bandas apadrinhadas pela editora Amor Fúria
Amor Fúria e Flor Caveira são duas editoras independentes que se têm afirmado como o mais recente fenómeno do novo rock português. Criaram nos últimos anos uma identidade muito própria quer musical quer estética, constituindo uma espécie de irmandade, longe do êxito fácil e do sucesso comercial imediato e por isso desconhecidas do grande público ainda. No entanto, alguns dos seus músicos já ultrapassaram o limiar do que se pode considerar alternativo.
Por Bruno Vieira
Se olharmos para a história do pop/rock nacional e não só, nem sequer trata-se de um fenómeno novo, podendo mesmo ser considerada como uma espécie de Fundação Atlântica ou Factory dos nossos tempos, e ainda bem porque é na base de projectos desta natureza que se criam, num mercado pequeno como o nosso, massa crítica e sinergias, reinventando/explorando novas linguagens para o pop/rock cantado em português.
Comecemos então pela Amor Fúria (ou Companhia de Discos do Campo Grande): trata-se de um projecto criado em 2007 por Manuel Fúria, que teve na sua génese claras influências do pop/rock português dos Anos 80 e uma profunda inspiração pela que foi provavelmente a banda símbolo dessa década, os Heróis do Mar. Ou não fosse o facto do nome escolhido para baptizar este novo viveiro de bandas basear-se numa das suas músicas, “Amantes Furiosos”. Citando o site da editora “Os Amantes Furiosos voluntariam-se na defesa da cultura em Portugal, especificando o seu raio de acção na valorização e promoção da cultura pop moderna … suas raízes e tradições, seus rostos contemporâneos, os seus possíveis futuros. Inspirados por António Variações ou Pedro Ayres Magalhães, por Pedro Costa ou Amália Rodrigues, por Tito Paris ou Manuel de Freitas”, palavras para quê?
Do leque de artistas que alberga, os mais populares e representativos deste espírito são Os Golpes, seguindo-se os emergentes Feromona, numa sonoridade mais perto de Ornatos e Palma, com alguns apontamentos de Seattle. Temos também os parodiantes roqueiros Smix Smox Smux (que recentemente mudaram de editora), Os Velhos, Os Quais, Os Capitães da Areia, entre outros.
Relativamente à Flor Caveira, foi fundada em 1999 por Tiago de Oliveira Cavaco, também conhecido no meio artístico por Tiago Guillul. Este pastor Batista que canta e toca desde os catorze anos, cruzou diversos estilos musicais desde o punk, metal, passando pelo hard rock, acabou por estabilizar num registo mais pop/rock. Segundo o próprio, o rock acabou por tornar-se numa forma de “dar asas a outro tipo de coisas” (entendam-se experiências musicais), libertando-se do papel de pregador. É nesta altura que Cavaco se transforma em Guillul (que significa Cavaco em hebraico), pequena diferença, ou nem tanto, até porque a música agora é outra e alguns dos temas cantados mais provocadores distanciam-se claramente da palavra pregada. O trabalho de Guillul, sobretudo os álbuns “IV” e “V”, tem sido mais apreciado pela crítica do que pelo mercado, ou seja, mais próximo do que se pode considerar um músico de culto.
Desde a sua criação que a Flor Caveira foi responsável pela descoberta de bandas como Os Pontos Negros, Diabo na Cruz, B Fachada, Samuel Úria e João Coração. De entre estes os primeiros a ficarem conhecidos do grande público foram os Pontos Negros. Com um rock directo e riffs orelhudos, a banda de Queluz consegui atrair a atenção de toda uma nova geração que segue bandas como The Strokes, The Libertines, Artic Monkeys ou Bloc Party, bem como da “major” Universal.
Mais recentemente B Fachada e Diabo na Cruz (projecto liderado por Jorge Cruz, no qual B fachada também participa) também viram os seus trabalhos reconhecidos. O primeiro é um cantautor e multi-instrumentista talentoso, cujo álbum homónimo foi eleito como um dos melhores de 2009. Quanto ao segundo, pode mesmo considerar-se o álbum “Virou!” como o furacão da música portuguesa do ano passado. Jorge Cruz, como músico experiente que é, acertou em cheio ao baralhar e voltar a dar de novo o legado de Variações, desta feita de forma mais musculada e adaptada aos novos tempos.
Em tempos de crise como os que estamos a atravessar, a somar à derrocada do mercado discográfico que já vem de trás, a manutenção de projectos como a Amor Fúria e a Flor Caveira, a par de outros, são de vital importância para a música portuguesa assegurando a sobrevivência desta. Dificilmente nomes como os que foram citados teriam condições para vingar num mercado já de si exíguo e pobre. É através desta convergência de interesses e meios e da partilha de experiências não apenas no seio de cada uma das editoras, mas também entre ambas, que se têm obtido sinergias valiosas, a maioria das quais postas em prática, quer através da edição de álbuns quer da realização de concertos. Os resultados estão à vista e os novos talentos da música portuguesa, com maior ou menor visibilidade, estão no mercado. O público, por seu lado, terá de fazer a sua parte de forma a garantir sustentabilidade deste novo rock. Só assim a música portuguesa poderá sair mais fortalecida e valorizada.
FlorCaveira - Religão Panque Roque desde 1999. Não 2002!
ResponderEliminarBoa tarde,
ResponderEliminarAs nossas desculpas. Vamos corrigir.
Cumprimentos,
Irene Leite