Avançar para o conteúdo principal

Crítica Musical

Os Dias de Raiva

 Link da imagem

É fantástico como nos dias que correm ainda haja projectos tão interessantes, centrados na divulgação de música portuguesa. Torna-se ainda mais interessante quando o monopólio discográfico deixa de ter peso e passa a ganhar concorrência vinda de outras áreas de mercado, como é o caso das comunicações. Falo do projecto Optimus Discos que se junta já a um leque de ofertas de luxo,  como é o caso do Clubbing, Secret Shows e o incontornável Optimus Alive que conta também  com um palco dedicado ás suas apostas.

Por Tiago Queirós 


É numa destas apostas que podemos encontrar disponível de forma gratuita, o álbum que apresenta ao mundo o novo projecto de Pacman, numa altura em que ainda se digere o fim dos Da Weasel , que marcaram, de forma ímpar, a música portuguesa dos últimos anos.

Renunciando ao nome que o lançou no estrelato, Pacman é simplesmente Carlão neste novo rumo que dá à sua carreira, deixando para trás o nível juvenil dos autores de «Re-Tratamento» e abraçando as sonoridades que marcaram a adolescência da segunda metade dos anos 80.

De volta às origens de 30 Motherfuckers (desta vez em português) e de temas como «God Bless Johnny» que lançaram os posteriores DW, os Dias de Raiva apresentam uma sonoridade mais apontada para o Hardcore estandarte da Margem Sul do Tejo. Não seria, o agora, Carlão o maior icone da sua tão amada “Almada Cru” se deixasse de fora do mapa o que de melhor se faz na sua área.

Desde «Tás na Boa» que Pacman não conseguia algo tão rápido e pesado (retirando da fórmula «Bomboca (Morde a Bala)»), perfeito para fazer suar o mais ateu da sua religião sem ter que aguardar pelo encore. Sete temas que não prometem dar tanto que falar como o novo projecto de Virgul ( Nu Soul Family) mas que prometem momentos memoráveis ao vivo – ainda raros nos dias que correm atingindo dois picos , um no Festival Paredes de Coura onde abriram o ultimo dia e a Festa do Avante , onde certamente o tema «Camarada Comunista» terá ajudado à conquista.

Engane-se quem associe o hardcore dos Dias de Raiva às influências que os Beastie Boys tinham deixado na carreira do vocalista / MC. Este tipo de som rebelde é muito mais apontado aos míticos Dead Kennedys de «Holiday in Cambodja» , de onde se retira muito do baixo violento e das guitarradas cheias de riffs em overdrive. 

 O baterista, esse não tem de provar nada a ninguém também. Fred Ferreira tem no seu curriculum algumas das bandas mais badaladas dos ultimos tempos no nosso país. Do muito aplaudido projecto Orelha Negra,  deixando a sua marca em bandas como Yellow W Van, Dapunksportif, Micro Audio Waves, Os Maduros, Radio Macau, OIOAI ( de onde pertencia o baixista Nuno Espírito Santo) e até mesmo pelos Buraka Som Sistema. Olhando para os créditos, podemos concluir que é o ponto de encontro dos elementos deste projecto , visto que Nuno Espírito Santo ( Baixista) também já se tinha cruzado com ele nos OIOAI, assim como, João Guincho (guitarra) e Paulo Franco (guitarra) nos Dapunksportif. Este ultimo abandona os vocais em prol do reconhecido frontman e letrista do projecto.

O discurso directo é presente do princípio ao fim nos apenas sete temas, transmitindo a «raiva» misturada em palavras de ordem e de certas alegorias rebuscadas apenas no limite do que se quer. A mensagem antes de ser complexa deve ser perceptível, e nisso não pecam. Os «dialectos» estão mais politizados do que nunca.

O destaque vai para «Elogio de Raiva» que cativa da melhor forma possível logo a abrir as hostes; «Camarada Comunista» que se demonstra mais do que efusiva apesar de soar mais a Pacman do que a Carlão; e «Sem Moral» , que anuncia todo um potencial de destruição incalculável!
 



O álbum em si não se destaca de grandes nomes do género no nosso país, como é o caso dos For the Glory, Devil in Me ou até mesmo de exemplos da Academia de Linda-a-Velha ( a famosa LVHC) como os Mordaça ou Trinta e Um , mas o facto de apostar neste sub-género do Punk em português,  e sendo o super-grupo que é, torna-o de facto bastante apelativo. No final, a conclusão que se retira é de se tratar de uma surpresa agradável, apesar de ainda soar demasiado a Da Weasel, mas que não deixará ninguém desiludido.

Abrindo apetites: 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Roquivários no Luso Vintage

Link da imagem O início da década de 80 ficou marcado pelo aparecimento de diversas bandas rock no panorama nacional. A causa foi o estrondoso sucesso do álbum de estreia de Rui Veloso “Ar de Rock” que abriu caminho para novas bandas emergirem. Umas singraram na cena musical, até aos dias de hoje, caso é dos Xutos & Pontapés, UHF ou GNR, enquanto outras ficaram pelo caminho, após algum sucesso inicial. Destas destacam-se os Roquivários que encontraram no tema “Cristina” o seu maior êxito junto do público.    Por Carmen Gonçalves A banda formou-se em 1981 no seguimento do “boom” da cena rock, sob o nome original de “Rock e Varius”. Esta designação pretendia reflectir as influências musicais que passavam por vários estilos, não se cingindo apenas ao rock puro e duro. A música pop, o reggae e o ska eram variantes fáceis de detectar no seu som, e que marcaram o disco de estreia , “Pronto a Curtir”, editado em 1981.   Apesar de a crítica ter sido dura com o trabalho

Pedro e os Apóstolos no Luso Vintage

Link da imagem O gosto pela música é universal, “Mesmo para quem não é Crente”, como diria Pedro e os Apóstolos, uma banda nascida em 1992 e que hoje tem o seu momento na rubrica Luso vintage do Som à Letra. Por Gabriela Chagas Pedro de Freitas Branco, um cantor, compositor e escritor português , que a par deste projecto ficou também conhecido por ter sido co-autor de uma colecção de aventuras juvenis, "Os Super 4", é o Pedro da história.   Reza a história que tudo começou numa tarde de Fevereiro de 1992, numas águas furtadas de Lisboa. O apóstolo Gustavo pegou nas congas, o apóstolo Soares ligou o baixo a um pequeno amplificador de guitarra, e o apóstolo Pedro agarrou na guitarra acústica. Não pararam mais nos quatro anos seguintes. Em 92 produziram eles próprios um concerto de apresentação aos jornalistas e editoras discográficas em Lisboa que despertou o interesse das rádios , que acreditaram no grupo. Em Julho de 1996 gravaram o seu primeiro disco, “Mesmo para

REM no vídeo do mês

 Link da imagem Decorria o ano de 1985 quando pela primeira vez se ouviu o tema “Bad Day” num concerto dos REM em Nova Iorque. Contudo , só 18 anos mais tarde foi editado, tendo surgido na compilação de 2003, “In Time: The Best of REM 1988-2003”. Ainda que originalmente produzida em meados da década de 80, esta música manteve-se actual, tanto no som, como na letra crítica à sociedade americana. Por Carmen Gonçalves Originalmente dominado de “PSA”, uma abreviatura para “Public Service Announcement”, este tema surgiu como uma crítica às políticas do presidente dos Estados Unidos, Ronald Regan. Embora não tenha sido editado, foi o mote para o lançamento em 1987 de “ It's the End of the World as We Know It (And I Feel Fine) ”, um tema com uma cadência similar, que teve um estrondoso sucesso. A parecença dos dois temas não se centra só na letra cáustica de crítica à sociedade americana. Ao escutarmos o ritmo e a sonoridade de ambas, não se pode deixar de verificar as