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Crítica Musical

 The Decemberists
Álbum The King is Dead


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O ano muda mas a indústria não pára. 2011 é já um ano de expectativas altas, e muitos são os álbuns que já fazem correr tinta. The King is Dead , dos Decemberists, é sem dúvida um deles.

Por Tiago Queirós 

O novo dos The Decemberists era por muitos apontado como sendo um álbum a adquirir. A verdade é que desde 2002 que a banda têm sabido cativar o seu público de forma coerente e sem grandes arranjos que fujam ao estilo que captou a atenção do mundo para o seu projecto.

Ao que parece, estes rapazes juntaram-se algures pelo Estado de Oregon, bem longe da confusão da metrópole e concentraram a sua música no meio de um vasto campo bem ao estilo «Green Acers» . O álbum reflecte isso mesmo.

O distanciamento da confusão da cidade provocou uma espécie de caminho espirítual na produção deste novo trabalho e que conseguem transmitir de forma perceptível ao ouvinte.

Numa época onde o peso dos efeitos electrónicos se torna visível em vários géneros ditos alternativos, a banda opta por dar seguimento a uma sonoridade acústica, também ela em voga como é o caso do sucesso dos Mumford and Sons mas com várias referências folk e até mesmo country ao estilo bem norte-americano.

Renunciando aos clichés que por vezes a música popular sofre, pelo menos no sentido regional da coisa, os The Decemberists invocam com orgulho as suas raízes sem cair no ponto , tentador, de se tornar, desculpem-me a expressão, azeiteiro. Mas afinal o que tem The King is Dead de novo?
 
A resposta torna-se óbvia à primeira audição: a influência R.E.M. Peter Buck faz questão de oficializar essa semelhança emprestando os seus dotes na guitarra de onde se retiram temas como «Everybody Hurts», «Man on the Moon» e «Loosing My Religion».
É de facto notável e dá um certo arranjo mais pop-rock a uns Decemberists que voltam com este longa-duração, certamente, com o intuíto de captar novos ouvintes em prol de surpreender os veteranos do passado recente. Sente-se uma vontade de afirmação no grande público e a ligeireza de certos temas aponta um formato bastante radiofónico que encaixaria muito bem nas playlists nacionais.

A verdade é que, para quem esteja a par da discografia da banda, estamos perante um regresso ao nível lírico do álbum de estreia ( Castaways and Cutouts ) e verificamos uma melhoria assinalável dos temas comparando com os trabalhos anteriores.

O título relembra The Queen is Dead dos The Smiths, que ao que parece foram também uma influência para Colin Meloy (vocalista e guitarrista) que decide assim mostrar o seu tributo.

Mas voltando ao The King is Dead, temas como « Down by the Water» no seu up-tempo e «This is Why We Fight» prometem perdurar no timpano durante horas a fio de tão viciantes que se podem tornar.

«Rise to Me», «June Hymn» e «Don't Carry it All» vão certamente apaixonar o ouvinte de tamanha ternura que carregam. «Rox in the Box» soa ao mais tradicional Country de salão , que por vezes se pode tornar cansativo de tão folclórico que soa. E é aqui que peca este King is Dead. Previsível e por vezes pouco entusiasta. 

A forma simplista denota a falta de pequenos retoques que poderiam fazer a diferença, por vezes disfarçados (e bem diga-se) pelo uso do acordeão. O álbum em si é uma constante, com poucos picos ao nível de tempos e muito menos ao nível de arranjos. De qualquer forma é de louvar a honestidade da música dos The Decemberists neste sexto álbum da banda . Se nos deixarmos levar quase de forma pastoral e embalar-nos na voz encantadora de Buck e de Gillian Welch (que dá um certo toque de requinte numa conjugação sublime) entramos numa viagem quase espiritual pelos mesmos pastos onde a banda norte-americana se foi inspirar.
Os fãs da música de raiz americana, apontando para os fãs da fase mais folk de Neil Young, não irão certamente querer perder a oportunidade de adquirir este álbum.

Simples mas bastante eficaz, longe de ser uma obra-prima mas perfeito para começar o ano sem grandes sobressaltos.

 Abrindo apetites: 

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