Avançar para o conteúdo principal

Corvo na Máquina do Tempo

Link da imagem

Um filme de grande sucesso comercial e crítico aquando o seu lançamento. Uma obra que marcou o fim da carreira do actor Brandon Lee e ao mesmo tempo lançou a carreira do realizador sci-fi Alex Proyas. Polémico, mas surpreendente , o Corvo viaja à boleia da Máquina do Tempo desta semana.

Por Miguel Ribeiro



Baseado numa novela gráfica do mesmo nome escrita por James O’Barr, a estória de O Corvo tem um ínicio algo mórbido. A estória foi escrita após a namorada do autor ter sido morta ao ser atropelada por um condutor embriagado, o que nos remete à ideia de que a própria estória foi escrita para lidar com a morte da mesma.

 Além disso, existem algumas diferenças entre o filme e a estória original, pois na novela gráfica a personagem principal, Eric, e a namorada Shelly são brutalmente atacados na rua por um gangue, enquanto tentavam pegar o carro. Na estória original é Eric que é levado para o hospital ainda vivo e subentende-se (ou não) que toda a estória de vingança que se segue poderá ser simplesmente uma fantasia que lhe ocorre enquanto está na sala de operações às portas da morte.


Posto isto, as mudanças feitas ao filme no que toca à estória foram bem exploradas. Embora algumas personagens tenham sido alteradas na sua natureza para efeitos dramáticos, a narrativa é empolgante e carrega o filme por si só, mas aquilo que realmente vende o filme, é o excelente trabalho visual aqui conseguido. Tudo desde a iluminação, os efeitos especiais, a caracterização e a banda sonora complementa-se muito bem para nos trazer esta ideia de um mundo perdido, uma cidade negra, corrompida por crime,  onde as únicas personagens “puras” são a jovem Sarah e o polícia Albrecht.

É fácil de notar as influências mais directas no estilo visual do filme e no ambiente construido para trazer este mundo à vida. Assim como no filme seguinte que Alex Proyas realizou, Dark City (1998) as influências de filmes como Batman de Tim Burton e Blade Runner de Riddley Scott fazem-se notar nesta obra. Eric, a personagem interpretada por Brandon Lee está bem conseguida e leva-nos a sentir empatia por esta, fazendo-nos querer que ele leve a sua vingança até ao fim, embora, em toda a verdade, estejamos a ver simplesmente um filme de acção com violência. De facto, é precisamente aqui que se percebe que esta obra foi bem construida: não demora muito tempo a chegar ao que esperávamos do filme, nem perde muito tempo em cenas pseudo-dramáticas ou demasiado sérias que pudessem tornar a película menos credível. 

A banda sonora é um dos pontos altos do filme, com nomes como Nine Inch Nails que fizeram uma cover da música “Dead Souls” dos Joy Division e outras bandas como Pantera, Rage Against the Machine, The Cure, Stone Temple Pilots ou The Jesus and Mary Chain, entre outras. De notar que a inclusão de musicas de bandas como The Cure e Joy Division não é uma coincidência, pois foram estas mesmas bandas que o autor da estória original James O’Barr ouvia enquanto escrevia O Corvo. Aliás, alguns dos nomes dos capítulos da novela gráfica têm nomes de músicas de Joy Division como “Atmosphere” e “Atrocity Exhibition” e Eric até chega a citar partes de uma letra da música “Disorder” , do álbum Unknown Pleasures.

O Corvo, apesar de não quebrar nenhuma barreira na altura, apresentou uma estória muito bem trabalhada e alcançou imenso sucesso, tanto comercial como na crítica. Esta obra ficará marcada no tempo como um bom filme com uma abordagem original e tristemente pela morte do actor Brandon Lee.  No entanto, vale a pena recordar este filme que se tornou icónico e que gerou mais três longas-metragens e inclusive séries de televisão, mas nada que tenha feito renascer a mística deste filme.



Comentários

Mensagens populares deste blogue

Roquivários no Luso Vintage

Link da imagem O início da década de 80 ficou marcado pelo aparecimento de diversas bandas rock no panorama nacional. A causa foi o estrondoso sucesso do álbum de estreia de Rui Veloso “Ar de Rock” que abriu caminho para novas bandas emergirem. Umas singraram na cena musical, até aos dias de hoje, caso é dos Xutos & Pontapés, UHF ou GNR, enquanto outras ficaram pelo caminho, após algum sucesso inicial. Destas destacam-se os Roquivários que encontraram no tema “Cristina” o seu maior êxito junto do público.    Por Carmen Gonçalves A banda formou-se em 1981 no seguimento do “boom” da cena rock, sob o nome original de “Rock e Varius”. Esta designação pretendia reflectir as influências musicais que passavam por vários estilos, não se cingindo apenas ao rock puro e duro. A música pop, o reggae e o ska eram variantes fáceis de detectar no seu som, e que marcaram o disco de estreia , “Pronto a Curtir”, editado em 1981.   Apesar de a crítica ter sido dura com o trabalho

Espaço "Rock em Portugal"

Carlos Barata é membro da Ronda dos Quatro Caminhos, uma banda de recriação da música tradicional portuguesa, que dispensa apresentações. Nos anos 70 do século XX foi vocalista dos KAMA- SUTRA, uma banda importantíssima, que, infelizmente, não deixou nada gravado. Concedeu-nos esta entrevista. Por Aristides Duarte  P: Como era a cena Rock portuguesa, nos anos 70, quando era vocalista dos Kama - Sutra e quais as bandas de Rock por onde passou?   R: Eu nasci em Tomar, terra que, por razões várias, sempre teve alguma vitalidade musical. Aí comecei com um grupo chamado “Os Inkas” que depois se transformou na “Filarmónica Fraude” com quem eu gravei a “Epopeia”, seu único LP. Quando posteriormente fui morar para Almada fui para um grupo chamado Ogiva, já com o Gino Guerreiro que foi depois meu companheiro nas três formações do Kama -Sutra. São estas as formações mais salientes a que pertenci embora pudesse acrescentar, para um retrato completo, outras formações de mais curt

Pedro e os Apóstolos no Luso Vintage

Link da imagem O gosto pela música é universal, “Mesmo para quem não é Crente”, como diria Pedro e os Apóstolos, uma banda nascida em 1992 e que hoje tem o seu momento na rubrica Luso vintage do Som à Letra. Por Gabriela Chagas Pedro de Freitas Branco, um cantor, compositor e escritor português , que a par deste projecto ficou também conhecido por ter sido co-autor de uma colecção de aventuras juvenis, "Os Super 4", é o Pedro da história.   Reza a história que tudo começou numa tarde de Fevereiro de 1992, numas águas furtadas de Lisboa. O apóstolo Gustavo pegou nas congas, o apóstolo Soares ligou o baixo a um pequeno amplificador de guitarra, e o apóstolo Pedro agarrou na guitarra acústica. Não pararam mais nos quatro anos seguintes. Em 92 produziram eles próprios um concerto de apresentação aos jornalistas e editoras discográficas em Lisboa que despertou o interesse das rádios , que acreditaram no grupo. Em Julho de 1996 gravaram o seu primeiro disco, “Mesmo para