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Espaço The Indies

17º Super Bock Super Rock – algumas considerações…


Slash



Terminou a 17ª edição do festival Super Bock Super Rock e a segunda realizada na Herdade do Cabeço da Flauta, perto do Meco. Este ano a organização prometia isso mesmo, melhor organização face à edição do ano passado, mas as melhorias pouco se fizeram sentir.

Por Bruno Vieira 

Fora do recinto, o campismo caótico e o estacionamento ao bom estilo das praias entre a Costa da Caparica e a Fonte da Telha. Dentro do recinto, poeira, poeira e mais poeira. Se estivéssemos no Delta Tejo, bem podiam convidar a Ivete Sangalo.

É precisamente dentro do recinto que a falta de condições mais se fez sentir, e a Música no Coração nem sequer pode dizer ter sido apanhada desprevenida face à afluência de público, de facto eram esperadas cerca de 90.000 pessoas para os três dias, o que veio a confirmar-se (ou seja, mais 18.000 do que a edição do ano passado). Não é muito difícil fazer as contas, se o espaço mantém-se mais ou menos inalterado e o número de pessoas aumenta, o inevitável acontece com consequências ao nível da circulação das mesmas.

Para agravar a situação há a acrescentar a já muito falada e inalada poeira, que poderá contribuir para um clima tipo “campo de batalha” nos concertos, mas que não deixa de ser desconfortável para o corpo e roupa. Se Glastonbury ficou conhecido pela lama, o SBSR parece estar a ganhar fama à custa da poeira, sem que nada tenha sido feito para a evitar. A ver vamos se a permanência deste evento no Meco por mais dez anos, servirá de pretexto para que a Música no Coração faça algo em prol do conforto dos festivaleiros.

Quanto à música, a organização parece ter encontrado finalmente uma fórmula de sucesso para despertar o interesse do público, que ocorreu em número bastante considerável à Herdade do Cabeço da Flauta. Neste aspecto podemos afirmar que se tratou de uma aposta ganha, depois dos bons indícios dados pela edição do ano passado. É preciso não esquecer que o SBSR conheceu um período algo incaracterístico nas edições de 2008 e 2009, marcado por alguma indefinição e incoerência do cartaz. E foi precisamente o regresso à coerência que tem permitido ao SBSR recuperar aos poucos o estatuto doutros tempos. Apostar menos no rock pesado e mais em nomes do universo indie/alternativo dos últimos anos parece ser o caminho a seguir. A prova disso foram os nomes escolhidos para cabeças de cartaz deste ano (Artic Monkeys, Arcade Fire e The Strokes), que por serem relativamente bem conhecidos, são capazes de atrair também público que não seja tipicamente indie.

Dado não ser possível assistir a todos os concertos, gostaria no entanto de deixar aqui algumas palavras em relação ao que mais (e menos) gostei. Pela positiva destaco o concerto de Arcade Fire, pese embora os problemas de som sentidos principalmente por quem se encontrava mais atrás. À parte disso foi um concerto em que os canadianos se entregaram completamente ao público e este retribuiu da melhor forma. Pena não terem tocado “Modern Man”, mas pelo espectáculo que deram, estão perdoados. Relativamente ao concerto de 2007, também no SBSR, percebe-se que estão mais maduros, afirmando-se como uma das referências maiores do rock dos últimos anos.

Outra presença a destacar pela positiva foi o concerto de Slash, que quebrou com o alinhamento esmagadoramente indie do festival, sem que isto seja uma desconsideração, muito pelo contrário. O ex-guitarrista dos Guns N` Roses foi uma aposta segura e bastante tentadora, capaz de atrair público que tanto lida bem com indie-rock como hard-rock, já que é neste último que Slash dá cartas, sendo ainda hoje uma personalidade do rock de pleno direito. O seu concerto foi uma experiência que, voltaria a repetir. Foi simplesmente desfrutar de todo o poder do hard-rock, embora nos últimos anos esteja mais familiarizado com outras sonoridades. Apesar do curto concerto, Slash e companhia foram o exemplo de como se deve estar em palco.

Pela negativa, sem dúvida, The Strokes. Apesar de serem uma das bandas que mais gosto, o pouco respeito demonstrado pelo público deitou tudo a perder (em particular o seu vocalista Julian Casablancas). O facto de ter nascido em berço de ouro não é garantia de boa educação. Até para se ser presunçoso é preciso classe (temos o exemplo de Keith Richards), não é o caso de Casablancas. Acredito que o triste espectáculo que deu tenha agradado a alguns, mas o que eu vi foi uma banda sem alma. Em vez de um concerto para mais tarde recordar, os The Strokes limitaram-se a despachar serviço. Muitos mostraram-se desagradados com a ausência de encore, mas sinceramente nem penso que tenha sido o principal problema, já que não estava previsto na set-list. Com uma boa aparelhagem quase se conseguia o mesmo efeito em casa.


Houve ainda duas bandas que saíram claramente beneficiadas pela quantidade de público presente, e isto sem qualquer sentido pejorativo, apenas o constatar de um facto. Foram os Elbow e Beirut, na medida em que os concertos que se lhes seguiram (Slash, The Strokes e Artic Monkeys, respectivamente) eram os que justificavam maior audiência. No entanto, os Elbow deram um bom concerto, tendo a banda britânica terminado em beleza ao som de “One Day Like This”.


Muito mais poderia ser dito, mas fica aqui o essencial. Antes de terminar e a título de curiosidade, na votação realizada na página do facebook “The Indies” até ao momento o dia preferido foi 14 de Julho com 14 votos (Artic Monkeys), seguido de 15 de Julho (Arcade Fire) com 13 votos e finalmente o dia de encerramento do festival (The Strokes) com 5 votos (num total de 32 participantes). Pode não ser representativo, mas será sem dúvida significativo.

Comentários

  1. Pois é Bruno, também lá estive e de facto os Strokes deixaram muito a desejar. Já na edição do ano passado, a prestação de Julio Casablancas foi fraca e revelou uma grande arrogância face ao público.
    Claro que só por Arcade Fire valeu bem pena ter levado banhos de pó e ter aturado as filas intermináveis de trânsito.
    No palco alternativo também houve muito bons concertos. Destaco de Vaccines, Junip, Lykke Li ou num outro registo Chromeo, sem descurando os sons nacionais que por lá passaram.
    Lamento no primeiro dia ter demorado 4 horas a chegar ao recinto, o que me fez perder os concertos de Walkmen, e Tame Impala, que queria muito ver. Walkmen deram um dos melhores concertos do ano passado, e tenho pena de ter perdido a energia do vocalista em contexto de festival. Tame Impala, fica para a próxima.

    Em resumo, apesar dos aspectos menos bons, o cartaz estava muito bom! De facto a organização encontrou um rumo face ao cartaz apresentado. Agora falta encontrar uma forma de dar ao público melhores condições para assistir a grandes concertos. Tanto ao nível de espaço, acampamento, e localização. Não se justifica levar 4 horas de Lisboa ao Meco, sem estradas alternativas.

    Gostei do teu apanhado!

    Carmen Gonçalves (colega destas andanças)

    ResponderEliminar
  2. "Obrigada Carmen, o objectivo da crónica foi falar do SBSR de um modo geral, daí só ter referido os nomes mais conhecidos. Ao referires alguns nomes do palco secundário que também gosto, de certa forma, complementaste o que eu tinha escrito. Já vi que andas de olho na música alternativa e novas tendências, ainda bem!:) Espero que continues a participar aqui no "Som à Letra", bem como na minha página do facebook "The Indies".
    Cumprimentos,
    Bruno Vieira"

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