The Doors é um filme de Oliver Stone (Platoon, JFK) sobre a famosa banda de Los Angeles, embora o foco se mantenha essencialmente sobre o vocalista e figura icónica da banda, Jim Morrison, aqui interpretado por Val Kilmer. Um olhar sobre o filme do grupo que agitou o final dos anos 60, aqui na Máquina do Tempo.
Por Miguel Ribeiro
Com um excelente elenco secundário, composto por actores como Kyle MacLachlan (Ray Manzarek), Meg Ryan (Pamela Courson) e Kathleen Quinlan (Patricia Kennealy) «, a verdade é que o foco mantém-se sempre sobre Kilmer , que consegue uma interpretação fantástica como Jim Morrison, levando-nos a crer que é o próprio que se encontra ali, o que ajuda o espectador a entrar neste mundo que parece ser o sonho molhado de qualquer estrela de rock: uma roda viva de sexo e drogas com umas quantas pitadas de álcool e um ego maior que a vida; a crermos que o que se depicta no filme passou-se exactamente como o vemos, leva-nos a pensar que Morrison era realmente um Deus, apenas não tinha uma consciência a acompanhá-lo, mas sim um talento inegável.
A estória em si é fácil de seguir: vemos o ínicio da banda, a criação das músicas, Morrison a conhecer Pam, a “viagem” ao deserto onde o grupo estabelece uma ligação e objectivo para eles próprios, os primeiros espectáculos e a ascensão do grupo à fama, sendo a partir deste ponto que a obra se foca ainda mais em Jim e acompanhamos a sua descida ao inferno, o seu, pelo menos.
Stone foca ao longo do filme a ligação e fascínio que Morrison parecia ter com a morte, aparentemente para ele a última “trip”, a última viagem ou experiência que lhe interessa, isto com cenas construidas através de uma montagem psicadélica de forma a nos transportar para aquele tempo e espaço dos finais dos anos 60, com aparições ao longo do filme de um “xamã” simbolo do seu fim declarado, do seu destino e que vemos no início quando aparece em criança a viajar com a família e também na cena final, antes de Pam o descobrir morto na banheira.
Stone tem em atenção esta ligação para a montagem do filme, é aliás, o fio que de alguma forma liga a atitude de Jim para com a sua vida e os outros e que vai aparecendo cada vez mais frequentemente, principalmente quando nos aproximamos da última hora do filme, altura em que a obra cada vez se torna mais alucinante e agressiva e há que admitir, consegue com muito sucesso transmitir uma sensação de montanha russa, de que nos encontramos tão intoxicados e alcoolizados como ele, muito por culpa da câmara, quase sempre à mão quando acompanhamos Jim pelas festas e concertos e sempre em movimento, como se a própria câmara também estivesse intoxicada. De referir que a fotografia está excelente para o que é pretendido, sendo de assinalar a recriação dos concertos, tanto nos pequenos bares, como a dos espectáculos nos grandes palcos, assim como a cenografia e o guarda-roupa que realmente nos remete para aquela época; a banda-sonora dos próprios está também excelente, como seria de esperar, ainda com a inclusão de duas músicas dos The Velvet Underground.
Neste mês em que relembramos os The Doors, esta obra enquadra-se muito bem, e embora seja simplesmente uma peça de ficção com alguns ajustes aos factos para efeitos de dramatização, consegue com sucesso dar-nos uma visão sobre o que terá sido a vida de Jim Morrison, mas não consegue trazer justiça à banda em si; com efeito o filme não deveria ter o título The Doors mas sim o nome do icónico vocalista, visto que se centra sobre ele e não na música do grupo.
Por último, é importante referir que o resto do grupo não gostou muito da forma como o filme se centrou em Morrison, criticando a própria abordagem que Stone teve quanto à depicção do vocalista, com o teclista Ray Manzarek afirmando que se centraram muito num Jim acompanhado sempre por uma garrafa de alcóol e não na sua poesia e pessoa. Aparte isto, é uma boa obra para os fãs e dá sempre vontade de pôr um álbum dos The Doors a rodar logo a seguir ao final do filme. Longa vida aos Riders on the Storm.
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