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Marilyn Monroe na Máquina do Tempo






Por Rato Cinéfilo 

Nascida a 1 de Junho de 1926, em Los Angeles, California, EUA
Falecida a 5 de Agosto de 1962, em Los Angeles, California, EUA


«Morreu a mulher mais bela do mundo / Tão bela que não só era assim bela / como mais que chamar-lhe marilyn / devíamos mas era reservar apenas para ela / o seco sóbrio simples nome de mulher / em vez de marilyn dizer mulher».

Assim começa o belíssimo poema de Ruy Belo chamado "Na Morte de Marilyn", já aqui divulgado na íntegra; «em vez de marilyn dizer mulher» ou em vez de marilyn dizer bela («não havia no mundo uma mulher mais bela»). Não havia, não houve e talvez não haja nunca mais. Pelo menos, assim. Marilyn foi a voz e o corpo acesos por vários (Wilder, Cukor, Hawks, Hathaway, Logan - grandes, médios e pequenos faróis) e simultâneamente o corpo e a voz que ela acendeu. Bastava que surgisse para tudo ser luz: uns perceberam-no e quedaram-se maravilhados; outros, não sei se o perceberam, mas a maravilha acontecia igualmente.


Depois há o medo. Quantas vezes Marilyn no-lo mostrou, quantas vezes aludiu a ele? No diário das filmagens do "Let’s Make Love" escrevia: «De que é que eu tenho medo? Porque é que tenho tanto medo? Porque penso que não sei representar? Sei que sei representar, mas tenho medo. Tenho medo e sei que não devo ter, e não quero ter. Mas tenho». Nunca nenhuma actriz nos deu tanto essa sensação de medo, como se de cada vez que aparecesse, de cada vez que nos dava a sua imagem (fotografia, filmes) soubesse que corria um risco de morte, «la mort au travail».


É fácil ser adivinho de coisas que já aconteceram. Quando hoje vemos os filmes de Marilyn, faz parte de nós o saber que essa mulher morreu com 36 anos. Mas julgo que não é só isso. Puxando pela memória, essa imagem da morte já a acompanhava. Há gente assim, os «seres que não são deste mundo» de que falava José Régio. Olhamos para eles como numa passagem de nível sem guarda, sabendo que faltam poucos minutos para o comboio passar e que (como nos pesadelos) não podemos gritar-lhes que se afastem. O comboio já vem aí e todo o tempo que os olhamos é o tempo da morte a vir. Dos filmes cómicos às comédias, dos musicais aos westerns, da alta comédia ao drama, cada plano de Marilyn nos fala da morte, nos dá a ver a morte.


Há muitas histórias de criança: aos dois anos, teve de ser hospitalizada depois de uma tareia monstra de uma vizinha; aos seis, foi violada por um «amigo da família». Aos nove anos, teria querido suicidar-se. E duas semanas depois de fazer os 16 anos liberta-se do seu estatuto jurídico de “órfã” ao casar com um amigo, James Dougherty. Divorcia-se em 1946, altura em que os estúdios da FOX reparam numas fotografias tiradas ainda em solteira e a contratam, como a milhares de outras, pagando-lhe 125 dólares por semana. Foi então que Norma Jean se passou a chamar Marilyn Monroe.


Tomou mais a sério a carreira que tantas outras. Matriculou-se no "The Actor’s Lab" em Hollywood e lia Tolstoi, Emerson, Whitman, Rilke. Em 48, Tom Kelley fotografou-a nua para o depois celebérrimo calendário (quando, já famosa, lhe perguntaram como tinha ousado, respondeu simplesmente: «tinha fome»). Em 1950 começou a ser notada em pequenos papéis nos filmes "Asphalt Jungle / Quando a Cidade Dorme", de John Huston, e "All About Eve / Eva", de Joseph Mankiewicz. Daí surgiu a grande oportunidade para ser dirigida por Howard Hawks em "Monkey Business / A Culpa foi do Macaco" (1952), de onde saltou para protagonizar "Niagara" (1953) que a lançou como «star». 





No mesmo ano "Gentlemen Prefer Blondes / Os Homens Preferem as Louras ", de novo com Hawks e esmagando Jane Russell (a «morena» do filme). "How to Marry a Millionaire / Como se Conquista um Milionário", ainda de 53, dá já a Marilyn o primeiro papel do «cast», sobre Betty Grable e Lauren Bacall. Era a maior descoberta do ano. Era a maior vedeta da FOX. Tinha 27 anos.







 O filme seguinte, "River Of No Return / Rio Sem Regresso" em que canta o «One Silver Dollar» e o «I Gotta File My Claim», era a consagração mundial e a ascenção ao «top».






Mas as mulheres como Marilyn não ficam por aí. Continuou a estudar cada vez mais intensamente ("Actor’s Studio"), enquanto casava com a mais célebre estrela do baseball americano: Joe Di Maggio. O casamento durou um ano, mas até ao fim a relação de Marilyn e Joe foi muito mais do que a publicidade deu a supor quando anunciou o enlace da «loira explosiva» com o basebolista. «Thank God, for Joe, Thank God» escreveu ela pouco antes de morrer.

"There’s No Business Like Show Business / Parada de Estrelas" é, para muitos, o fim da primeira Marilyn. A segunda - a grande actriz - surgiria em 1955 em "The Seven Year Itch / O Pecado Mora ao Lado". "Bus Stop / Paragem de Autocarro" (1956) é um êxito apoteótico. E, no mesmo ano, Marilyn casava de novo, desta vez com um dos mais famosos dramaturgos e intelectuais da América, Arthur Miller.

De novo Wilder e "Some Like It Hot / Quanto Mais Quente Melhor" (1959), outro dos seus filmes geniais. Há aquela sequência em que, convencida que Tony Curtis é milionário e frígido, ela tenta conquistá-lo e vai-o beijando. Diz-se que a cena foi repetida 47 vezes e que Tony Curtis teria dito que beijar Marilyn era como beijar Hitler. Mas, de cada vez que vemos essa cena, é impossível resistir. Quando pergunta pelo «bourbon», sentimos que é de mais. Nenhuma frigidez, verídica ou simulada, podia resistir.


Cukor dirigiu-a em 60 em "Let’s Make Love / Vamo-nos Amar", que teria dado lugar ao divórcio com Miller e a um falado romance com Yves Montand.



A par com os dois Wilder é o mais genial - e eu diria o mais tragicamente belo - dos filmes de Marilyn. Quando nos surge no negro a cantar «My Heart Belongs To Daddy» já a alma tinha tomado conta do corpo. 





Depois, em 61, Huston e "The Misfits / Os Inadaptados", ao lado de Gable e Montgomery Clift, no filme famoso pela maldição. É o seu grande papel dramático, aquele pelo qual teria esperado toda a vida. Ainda filmou algumas sequências de "Something’s Got To Give" de Cukor, em que contracenaria com Dean Martin e Cyd Charisse. Mas já a crise tomava conta dela por todos os lados. Faltava, chegava tarde, e o estúdio suspendeu-a.


Foram objecto de muita especulação as supostas ligações que manteve com o presidente John F. Kennedy (a quem cantou publicamente os parabéns em Madison Square Garden, no dia 29 de Maio de 62, altura do 45º aniversário de Kennedy) e o seu irmão, Bob Kennedy. A versão "oficial" da sua morte foi o suicídio com uma dose excessiva de comprimidos para dormir; mas até hoje persistem dúvidas sobre o que realmente aconteceu naquela madrugada trágica.

Voltando a citar Ruy Belo: «Toda a mulher que era se sentiu toda sózinha / julgou que a não amavam todo o tempo como que parou / quis ser até ao fim coisa que mexe coisa viva / um segundo bastou foi só estender a mão / e então o tempo sim, foi coisa que passou». Para ela. Não para nós, para quem continua a «exibir vida» (e morte) mesmo quando e mesmo depois de a suprimir e de a assumir.

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