Avançar para o conteúdo principal

Nirvana







20 anos de Nevermind e mito para o grunge 



Há 20 anos atrás um grito de revolta muda a face da música tal como era conhecida. O niilismo depressivo do anti-herói despojado de artifícios assinalou a ruptura com a era do hair metal, do glam rock, da maquilhagem e lantejoulas, dos ocos excessos. Como diria Mickey Rourke em The Wrestler, referindo-se aos seus ídolos dos anos 80: “os Nirvana chegaram e estragaram isto tudo”. 

Por Susana Terra 

Estávamos em 1987, na remota cidade de Aberdeen, Washington, quando Cobain conhece Novoselic enquanto ambos assistiam aos ensaios dos Melvins. A demo Fecal Matter, de Cobain, serviu de base para os ensaios do novo projecto com Novoselic mas, com uma sucessão de bateristas até encontrarem Chad Channing, apenas iniciaram as primeiras gravações no ano seguinte. 

Love Buzz, o primeiro single da banda é editado pela editora independente de Seattle Sub-Pop em finais de 1988 e logo os Nirvana iniciaram a gravação do seu primeiro álbum de estúdio. O mítico Bleach surge à luz do dia em 1989 e é um álbum duro, cru, genuíno, a erupção de uma raiva mal contida contra o “establishment”. Nesta época, as principais influências dos Nirvana oscilavam entre o punk dos anos 80, o rock mais duro de bandas como os Mudhoney e Melvins e mesmo o hard rock da década de 60-70, dos Black Sabbath aos Led Zeppelin, banda pela qual Cobain não esconde a sua admiração. A gravação de Bleach custou a módica quantia de 600 dólares e logo após o seu lançamento os Nirvana embarcaram em digressão pelos EUA. 


No início de 1990 os Nirvana iniciaram uma colaboração com o produtor Butch Vig para a gravação de um novo álbum e embarcam novamente em digressão, desta vez com os Sonic Youth. A atribulada saída de Chad deu lugar à entrada de Dave Grohl e o colectivo encontrou, finalmente, alguma estabilidade. As gravações com Butch Vig suscitaram o interesse das grandes editoras e os Nirvana assinam pela DGC Records. 

E eis que surge Nevermind, em 1991, o marco histórico na carreira dos Nirvana que iria revolucionar o panorama musical dos anos 90. Nevermind é um álbum brilhante, com uma grande coerência interna e temas que são um verdadeiro murro no estômago no ouvinte. Smells Like Teen Spirit é, sem sombra de dúvidas, o tema mais emblemático de Nevermind. 


Quem não se recorda da primeira vez que ouviu esta canção? A perplexidade e a angústia deste hino que espelhava tão bem a incerteza e apatia da Geração X. Smells Like Teen Spirit teve desde logo um intenso airplay na MTV e Cobain é elevado ao estatuto do herói de uma geração, tudo aquilo que no fundo abominava. O intenso mediatismo acerca da sua vida pessoal com Courtney Love e da sua dependência de heroína começa a criar uma realidade claustrofóbica para Cobain.

Em finais de 1992 é lançada a colectânea Incesticide, em parte devido à exaustão da banda e aos conflitos que começaram a surgir, mas a indústria musical quer mais. Em 1993 é lançado o último álbum de estúdio dos Nirvana, In Utero. No ano seguinte realizam a sua última tour, passando por Portugal. A grave dependência de Cobain acentua-se e vai tendo algumas overdoses. Os Nirvana antecipam o final da tour de 1994 em Roma e Cobain é pressionado para entrar em reabilitação. Foge da clínica e parte para Seattle, onde é encontrado uma semana depois, morto.

A título póstumo, os Nirvana lançaram ainda no ano de 1994 o MTV Unplugged in New York, em 1996 o From the Muddy Banks of the Wishkah, com gravações de diversos concertos pelos EUA e, em 2009 o Live at Reading, provavelmente um dos melhores concertos do grupo.

O choque causado pelo desaparecimento precoce de Cobain causou a consternação mundial. O herói que não o queria ser não estava preparado para ser a figura central do circo mediático e optou por desaparecer do mundo que o devorou aos poucos. Para a posterioridade fica a imagem da fragilidade de Cobain, o mito, o legado e uma nova era, o grunge.



Comentários

Mensagens populares deste blogue

Roquivários no Luso Vintage

Link da imagem O início da década de 80 ficou marcado pelo aparecimento de diversas bandas rock no panorama nacional. A causa foi o estrondoso sucesso do álbum de estreia de Rui Veloso “Ar de Rock” que abriu caminho para novas bandas emergirem. Umas singraram na cena musical, até aos dias de hoje, caso é dos Xutos & Pontapés, UHF ou GNR, enquanto outras ficaram pelo caminho, após algum sucesso inicial. Destas destacam-se os Roquivários que encontraram no tema “Cristina” o seu maior êxito junto do público.    Por Carmen Gonçalves A banda formou-se em 1981 no seguimento do “boom” da cena rock, sob o nome original de “Rock e Varius”. Esta designação pretendia reflectir as influências musicais que passavam por vários estilos, não se cingindo apenas ao rock puro e duro. A música pop, o reggae e o ska eram variantes fáceis de detectar no seu som, e que marcaram o disco de estreia , “Pronto a Curtir”, editado em 1981.   Apesar de a crítica ter sido dura com o trabalho

Espaço "Rock em Portugal"

Carlos Barata é membro da Ronda dos Quatro Caminhos, uma banda de recriação da música tradicional portuguesa, que dispensa apresentações. Nos anos 70 do século XX foi vocalista dos KAMA- SUTRA, uma banda importantíssima, que, infelizmente, não deixou nada gravado. Concedeu-nos esta entrevista. Por Aristides Duarte  P: Como era a cena Rock portuguesa, nos anos 70, quando era vocalista dos Kama - Sutra e quais as bandas de Rock por onde passou?   R: Eu nasci em Tomar, terra que, por razões várias, sempre teve alguma vitalidade musical. Aí comecei com um grupo chamado “Os Inkas” que depois se transformou na “Filarmónica Fraude” com quem eu gravei a “Epopeia”, seu único LP. Quando posteriormente fui morar para Almada fui para um grupo chamado Ogiva, já com o Gino Guerreiro que foi depois meu companheiro nas três formações do Kama -Sutra. São estas as formações mais salientes a que pertenci embora pudesse acrescentar, para um retrato completo, outras formações de mais curt

Pedro e os Apóstolos no Luso Vintage

Link da imagem O gosto pela música é universal, “Mesmo para quem não é Crente”, como diria Pedro e os Apóstolos, uma banda nascida em 1992 e que hoje tem o seu momento na rubrica Luso vintage do Som à Letra. Por Gabriela Chagas Pedro de Freitas Branco, um cantor, compositor e escritor português , que a par deste projecto ficou também conhecido por ter sido co-autor de uma colecção de aventuras juvenis, "Os Super 4", é o Pedro da história.   Reza a história que tudo começou numa tarde de Fevereiro de 1992, numas águas furtadas de Lisboa. O apóstolo Gustavo pegou nas congas, o apóstolo Soares ligou o baixo a um pequeno amplificador de guitarra, e o apóstolo Pedro agarrou na guitarra acústica. Não pararam mais nos quatro anos seguintes. Em 92 produziram eles próprios um concerto de apresentação aos jornalistas e editoras discográficas em Lisboa que despertou o interesse das rádios , que acreditaram no grupo. Em Julho de 1996 gravaram o seu primeiro disco, “Mesmo para