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“O vinil e a descoberta da música"


Não é a primeira vez que falo sobre os discos de vinil, já que a primeira crónica que escrevi enquanto colaborador do “Som à Letra” foi precisamente sobre este tema: “A segunda vida do vinil”. Desta feita a abordagem é diferente na medida em que vou relembrar o tempo em que comecei ouvir e a gostar de música, quando o vinil ainda era um formato popular, daí o tema desta crónica: “O vinil e a descoberta da música”.

Por Bruno Vieira


O vinil ocupa de facto um cantinho no meu coração, fazendo parte das boas recordações de criança. Recordo-o com especial carinho,  não tanto na fase infantil (quem não se lembra da Ana Faria e os queijinhos frescos?), mas um pouco mais tarde quando comecei a gostar da mesma música dos adultos: Tina Turner, Phil Collins, Madonna ou Wham!.


A idade infantil começava a ficar para trás e de repente, parecia que tinha entrado na idade adulta, sem o ser, só pelo facto de estar a ouvir outro tipo de música. Lembro-me que pedir aos pais para me comprarem um disco era uma aventura. A persistência era a principal arma que tinha ao meu dispor, obrigando-os a passarem inúmeras vezes pela loja de música do centro comercial só para lhes mostrar qual era o próximo disco que eu queria.


Depois era só esperar, a altura do ano e o orçamento familiar ditavam as regras, juntando a boa disposição do momento e lá vinha o tão desejado vinil. Não se tratando de um bem de primeira necessidade não era coisa que entrasse em casa todas as semanas, mas quando mo ofereciam era, de facto, um momento especial, sendo o mesmo posto a tocar até à exaustão.


Tal como hoje, as colectâneas que reúnem os melhores êxitos já eram uma realidade e também uma opção económica para quem queria ter mais música pelo mesmo dinheiro. Pedir um álbum original que na altura custava cerca de 1.000$00, o mais certo era receber um single de 250$00, e já podia dar-me por muito satisfeito.


Daí que, em meados dos Anos 80, as colectâneas eram de facto a melhor escolha. O Verão, mas sobretudo o Natal eram as épocas fortes e cada editora tinha a sua. Ao longo desta década houve uma série de colectâneas que se mantiveram no mercado com bastante regularidade como o Jackpot, o Polystar, o Superdisco, o Hit Parade e o Top Genius, assim como outras mais efémeras. Esperar na altura pelos comerciais a anunciar na TV as colectâneas de Natal é o equivalente aos dias de hoje a aguardar pelas confirmações dos nomes para os festivais de Verão.

Provavelmente a primeira que tive foi o Jackpot 84, que na capa tinha uma imagem de um microcomputador e de uma televisão a fazer de monitor. Com 2 discos pelo preço de 1, música não faltava e dos 28 Super Tops anunciados constavam nomes como Queen, Trovante, Limahl, John Waite, Duran Duran ou Joe Cocker.



Quanto aos álbuns originais, remetidos para a categoria de prendas menos comuns, ficavam para ocasiões do tipo aniversários ou quando se tirava uma boa nota na escola. Recordo-me bem de alguns dos primeiros álbuns que tive, como “Born In The USA” de Bruce Springsteen, “Revenge” dos Eurythmics ou “Circo de Feras” dos Xutos & Pontapés. Ainda hoje fazem parte da minha colecção de vinil, pese embora o facto de já não tocarem há uma boa vintena de anos.


Receber um disco de vinil era, como já referi, um momento especial. A vontade de chegar a casa para o pôr a tocar vezes sem conta, ajustar as rotações certas, sob pena do som sair distorcido e tentar acertar a agulha do gira-discos no bordo do disco sem a estragar ou mesmo limpar os discos com um paninho, eram rituais que se perderam com a introdução do CD, muito mais funcional.


A própria dimensão das capas dos discos de vinil conferia-lhes “sex appeal” que o CD jamais igualaria. Se bem que a geração actual começa a ter alguma consciência do que é o vinil e a sentir curiosidade devido ao regresso deste a algumas lojas de música, o que é certo é que durante o período em que praticamente desapareceu das lojas, principalmente na segunda metade da década de 90, cheguei a ouvir “malta nova” dizer coisas do género: “esta cena toca?”, julgando tratar-se de um objecto de decoração devido ao seu maior tamanho em relação ao CD.


Apesar do surgimento deste, a década de 80 seria ainda dominada pelo disco de vinil, embora as vendas evidenciassem já uma desaceleração. À medida que os Anos 80 se aproximavam do fim o CD começava a ganhar cada vez mais protagonismo, que viria a consolidar-se definitivamente na década de 90.


No início desta ainda era relativamente fácil encontrar vinil nas prateleiras das lojas, mas num ápice o grande disco preto (digo preto porque também existiam noutras cores) parecia que tinha desaparecido definitivamente. Foi nessa altura que fiz a transição para o CD sem grande dor, ao aceitar com bastante naturalidade o fim de um ciclo e o início de outro. Por muitas saudades que tivesse do vinil, o facto de serem cada vez mais difíceis de encontrar, empurrava-me inevitavelmente para o CD.

Para além disso o CD era “trendy”, prático de pôr a tocar, muito mais portátil e ainda tinha a fama de possuir melhor som e de ser virtualmente indestrutível, mitos (sobretudo os dois últimos) que ao longo do tempo se foram desvanecendo.


Passados quase vinte anos e voltar a ver de novo o vinil nas prateleiras das lojas é, por momentos, regressar ao passado, ao tempo em que a música começou a fazer parte da minha vida.

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