Por Luís Vendeirinho
Originalmente publicado a 21 de Outubro de 2010
Inoculem-me o antídoto para a paz. Esta vida medíocre e morna em que nada significa a minha inocência, atado aos meus desvarios sem consequência na perpetuação da superioridade calada e do engenho que transpira em mim sem adoradores, esta vida nada significa para além da coragem de exterminar o que é morto por condição.
Ponham termo ao sofrimento que é só meu enquanto reino sem glória nem nome, e com ele ao mundo de que sou cativo e onde odeio os grilhões de uma bondade falsa. Não tenho mão para mudar o rumo de uma história viciada em sem-sentidos, esse gesto em que vingo a minha humilhação em nome de toda a humanidade humilhada, mas deixo ao arbítrio alucinado em que se consome a dor dos homens a conquista dos espaços sem espaço e dos tempos sem tempo.
Se reescrevermos a tragédia, que seja com um laivo de honra, responsáveis com nome de génio e alma de loucura, sem barreiras ante a maior força, misteriosa e degredada, que nos ponha um fim às consumições do espírito.
Não represento no palco como bobo de corte sem direitos sobre o meu destino, reino na minha solidão ao lado das multidões, todos presos ao fio da vida que nos estrangula e move sem lugar para a vontade ou lucidez para o arrependimento.
Em nome da comédia rimo-nos dos papéis que nos destina quem mais pode, quem mais manda, sem rosto nem culpa, como os heróis que se servem das angústias e dos terrores para salvarem a reputação de redentores.
Eu quero só para mim toda a responsabilidade da vida, como uma bola de fogo em que os meus erros ardam para bem da regeneração da paz. Inoculem-me o antídoto para a paz, que a vida é um enorme bocejo e nós adormecidos a crer que de manhã todos os males do mundo se vão, ao sabor das sentenças que se consumam sobre nós, espantalhos que assustamos o medo e nos rimos sob a mentira, inanimados e deitados à sorte dos ventos.
Confira o trailer :
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