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Citizen Kane na Máquina do Tempo





Quando em 1941 Orson Welles divulgou a sua primeira longa-metragem baseada na subida e queda de um magnata da comunicação, ninguém sabia que estava prestes a ser revelada uma das maiores obras na história do Cinema. Uma obra intemporal aqui na Máquina do Tempo.

 Por Miguel Ribeiro 


Mas porque será então  Citizen Kane tão citado como um dos melhores filmes de sempre? Melhor ainda, é considerado, quase unanimemente, como o melhor filme de sempre e senão bastasse isto, é também visto por muitos estudiosos e críticos como o filme que legitimou o Cinema como forma de arte. Isto não quer por si dizer que antes de Citizen Kane não haviam filmes fascinantes e importantes para o desenvolvimento da arte em si, como o Couraçado Potemkin de Eisenstein, M e Metrópolis de Fritz Lang ou O Homem da Câmara de Filmar de Dziga Vertov, mas a questão da legitimização é importante, pois é preciso referir que a linguagem do cinema ainda estava a crescer e foi com este filme que atingiu a “adolescência”.

Primeiro, temos a intenção de toda a produção chefiada por Orson Welles, que quis fazer um filme inovador, usando técnicas já conhecidas, mas de uma forma totalmente diferente. No campo narrativo, temos a demanda de um repórter que entrevista pessoas-chave na vida de Kane e que por si só, activa flashbacks, tudo para tentar construir o puzzle que era Charles Kane, por causa de uma palavra que ele murmurou antes de morrer: “Rosebud”. Se não bastasse isto, o tom da estória é totalmente negro e deprimente, principalmente pela forma como os últimos 30 minutos se desenrolam, o que era algo nunca visto até à altura. Depois, outra inovação neste filme, é ao invés de usarem uma montagem cronológica dos eventos, fez-se uma espécie de montagem fagmentada em que o espectador através dos momentos iniciais do filme (onde se resume os feitos de Kane através de um boletim notícioso como se fazia na altura) e dos testemunhos dessas personagens, vai construindo o perfil psicológico desta kane, alguem estranho e diferente e ao mesmo tempo, quase incompreensível. 

Segundo, a nível da fotografia e do som, ao reunir Orson Welles, o rapaz-maravilha de 23 anos que era estrela da rádio e grande encenador de teatro com o director de fotografia Gregg Toland, tivemos a apresentação de várias técnicas que ficariam para a história, como o Foco Profundo da câmara, onde pela primeira vez, vemos lentes que conseguem focar tudo o que está na imagem, permitindo enquadramentos mais trabalhados de forma a realçar determinadas personagens, ou o uso de contra-picados para mostrar o espaço ou enaltecer certas personagens. Orson Welles com a sua experiência a fazer programas de rádio, incluiu certas técnicas de montagem sonora que depois criaram novos paradigmas na montagem de filmes, como o uso de determinados sons-chave para na montagem fazer transições de tempo ou de espaço, unindo uma cena a outra de uma forma suave, quando sem essa técnica nunca passariam de cenas diferentes sem qualquer nexo.

Existem muitas mais inovações de índole técnica que foram criadas ou melhoradas por Orson Welles e usadas em Citizen Kane, mas talvez a mais importante terá sido a forma como ele conseguiu reunir todas estas competências, usando também uma equipa de actores que antes só tinha feito teatro e, com total controlo sobre a sua obra, criando algo que envelheceu bem e que essencialmente abriu as portas para um novo tipo de cinema, que realizadores como Truffaut e Godard viriam a falar (e fazer).

O melhor filme de sempre? Tal obra não existe, como também não existe a melhor pintura de sempre ou a melhor música de sempre. Mas que Citizen Kane é uma das obras supremas do Cinema, tanto a nível técnico como a nível narrativo, isso nem está em questão. Citizen Kane é aqui referido, justamente por essa razão. O teste do tempo foi ultrapassado.



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