É justo que sendo este o mês que dedicamos a um dos maiores músicos da actualidade, David Bowie, que falemos hoje na Máquina do Tempo do filme The Labyrinth, película de culto e última obra do talentoso Jim Henson, mais conhecido pela criação dos Marretas e de outro filme de fantasia , The Dark Cristal.
Por Miguel Ribeiro
Produzido por George Lucas, este filme contou ainda com o contributo de Terry Jones, um dos famosos seis elementos dos Monty Python, na escrita do guião e com Frank Oz, este último, mais conhecido por dar a voz e manipular Yoda nos filmes Star Wars. Jim Henson e Brian Froud criaram esta obra que conta a estória de Sarah, interpretada por Jennifer Connelly, e da sua busca pelo irmão mais novo Toby, raptado por Jareth, O Rei dos Goblins, a quem David Bowie dá corpo e voz.
Como seria de reparar num filme criado por Jim Henson, aparte da narrativa que é uma espécie de adaptação livre do conceito criado por Lewis Carrol em Alice no País das Maravilhas (no sentido em que vemos uma jovem perder-se num mundo da fantasia que de alguma forma espelha as suas preocupações no mundo real) nesta obra não temos tanta profundidade intelectual como encontraríamos na obra literária que referi. Mas temos algo de único na história do Cinema e que só Jim Henson poderia ter criado, isto é, os bonecos e, por assim dizer, marretas que vemos a interpretarem as outras personagens e que trazem uma “cor” única à paleta de fantasia que se encontra neste filme. Uma coisa é certa, o trabalho de design das personagens, desde a criação em conceito à sua construção final para os tornar verosímeis mas mesmo assim parecerem bonecos é de notar e um feito espectacular de tão reais que os bonecos parecem ser. É nestes momentos que a magia do Cinema entra em acção, e de uma forma mais acolhedora e palpável, visto que aqui estamos a ver efeitos especiais sem qualquer interferência digital, o que traz mais interesse à obra em questão.
Claro está, este filme conta com mais de David Bowie do que apenas a sua interpretação como actor, temos também a sua voz para alguns interlúdios musicais engraçados e que não aborrecem na visualização do filme (isto porque também não demoram mais do que entre dois a três minutos). Estas músicas foram criadas e cantadas por David Bowie, embora a banda sonora seja da autoria de Trevor Jones.
De referir ainda as personagens mais engraçadas deste filme, e embora ache imensa piada a todos os bonecos que aparecem, alguns são mais importantes que outros, nomeadamente, a equipa que Sarah reúne para a sua travessia: Hogglet, o goblin medroso que quer ganhar a amizade de Sarah, Ludo, o gigante adorável e carinhoso que consegue controlar pedras com o seu uivar e Sir Didymus e Ambrosius o seu cavalo de eleição, que na realidade é um cão (também muito medroso) em contraste com Sir Didymus , que é demasiado corajoso para o seu tamanho.
Para acabar, tenho que notar uma coisa; esta obra acompanha-me desde a minha infância e tem um lugar especial na minha memória por esse facto mesmo, mas recentemente tornou-se ainda mais importante para mim. Tudo porque quando voltei a rever o filme há uns anos atrás, com os meus 21 anos, apercebi-me de um pormenor no fim do filme que só como adulto compreendeu, que é o poder que certas estórias e contos, mas em particular esta obra para mim, têm de nos trazer nostalgia dos tempos de infância, em que a imaginação toldava a nossa compreensão do mundo, mas que enchia este mesmo com mais magia e mistério.
No final do filme, Sarah vê as aparições dos seus três amigos, Hogglet, Ludo e Sir Didymus que ao se despedirem dela lhe dizem que estarão com ela sempre que ela precisar, ao que ela retorque que sim, que de vez em quando, por nenhuma razão em especial, precisa deles e isto é algo com que todos nós nos conseguimos conectar. Aquele bocado que perdemos de nós próprios enquanto vamos crescendo, mas que obras como esta mostram que todos nós, de vez em quando, precisamos de nos relembrar daquele “extra” que pode parecer estar perdido, mas que na realidade, acompanhar-nos-á e aparecerá, sempre que precisarmos. E essa, é só uma de imensas razões porque o Cinema é tão especial.
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