Entrevista com João Moutinho
João Moutinho
nasceu em Lisboa, em 1949, mas tem raízes em Mata de Lobos (Figueira de Castelo
Rodrigo). Durante mais de 25 anos tocou em grupos de baile e percorreu o país. Em pleno “boom”
do Rock português, em 1981, editou o single “A Pastilha”, cujo lado B é
“Rockolagem”. Este tema,
“Rockolagem”, foca (em três minutos) variados nomes do Rock português dos anos
80. O seu refrão reza
assim: “O Rock também é riso, Que faço
com muito gozo, Mas não perco é o juízo, Por causa do Rui Veloso”.
Por Aristides
Duarte
P: Estreou-se no
programa de televisão “Zip Zip” , nos anos 60. Quer contar-nos como surgiu essa
oportunidade e se isso se materializou em alguma posterior gravação?
R:
História interessante. O meu parceiro do DUO INDEX, Francisco Figueiredo (a
pessoa que me iniciou na poesia) conhecia o grande guitarrista Carlos Paredes.
Queria ouvir as “baladas” que nós só tínhamos de ouvido no local que ele marcou,
o antigo Café Monumental. Seis horas da tarde, café cheio. Resultado: cantámos
as canções e o café parou.
No
final o Carlos Paredes perguntou-nos se não queríamos ir ao Zip-Zip. Claro que
aceitámos. Entrámos numa emissão com Luís Góis e outros em Agosto de 1969.
Entrei
no serviço militar nesse ano, estive 9 meses fora de Lisboa, em Instrução Militar. Quando
voltei, a hipótese de EP que estava prometida esboroou-se.
P: Tem boas
recordações dos anos 80, quando lançou a “ A Pastilha” e o “Rockolagem”?
R:
Nem por isso. Fomos enganados pela Editora Gira, que abriu falência selvagem.
Nem pagou o estúdio onde fizemos as gravações. A banda dissolveu-se e o
projecto gorou-se. Sei que se venderam 15.000 cópias do single. Mas nem um centavo
ganhámos. Era a selva completa na altura do “boom” do Rock português.
P: Durante anos
tocou em grupos de baile. Pode dizer-nos em que grupos tocou?
R:
Vários. Os mais importantes foram o Intento e o Orange.
P: Para além do
single “A Pastilha” que outros projectos teve relacionados com o Rock
português?
R:
Colaborei de perto com o grupo SEILÁSIÉ, como autor de algumas letras.
Mais
tarde o Rui Veloso seleccionou uma série de poemas meus mas, que eu tenha
conhecimento só musicou a “Homenagem”, poema que dediquei às mães, e que mais
tarde foi gravado por Adelaide Ferreira. Curiosamente o Rui enganou-se e deu
como autor da letra uma outra pessoa, mas o assunto foi esclarecido. É até
provável que ele tenha musicado mais algumas e girem por aí, mas eu não sei de
nada.
P: Quer
contar-nos algum episódio curioso que aconteceu nas suas “andanças” por esse
país fora?
R:
Há um episódio deveras curioso. Meu pai é originário de Mata de Lobos, no
concelho de Figueira de Castelo Rodrigo. Soube que nunca tinha havido lá um baile.
Levei a banda. Quando nos disseram o local do baile ia “morrendo”. Era a Escola
Primária da terra. Imaginem duas salas separadas por um corredor. Colocámos a
aparelhagem numa das salas, mas o povo era tanto que encheu as duas salas.
Creio que na segunda apenas se ouviam ecos. Mesmo assim não abandonaram a festa
toda a noite. Estou a falar de Novembro de 1975.
P: Acha que o
Rock português, incluindo todos os estilos, continua a ser uma corrente
importante da música portuguesa?
R:
O Rock sempre será uma corrente importante, porque inovadora, “revolucionária”
em muitos sentidos. Ainda que actualmente a música seja muito dominada por
“produtores” que em muitos casos o são só de nome. No entanto, apareceram
determinadas tecnologias que permitem ultrapassar alguma “violência” das editoras.
Veja-se o caso dos THE GIFT que nasceram na Internet e agora têm uma carreira
consolidada.
P: Actualmente
está mais ligado à poesia. Mesmo assim, a música continua a ser sua
companheira?
R:
A música sempre será minha companheira. Aliás, muitas vezes, quando escrevo já
há subjacente uma melodia. Estou a pensar regressar com pequenos espectáculos
intimistas: “A música da Poesia, a Poesia da Música”. Um músico e uma voz.
P: Tem boas
recordações do público do distrito da Guarda e das localidades por onde passou?
R:
Recordo-me que no ano de 1976, o Intento, a minha banda de então, começou um
mês de Agosto em Malpica do Tejo ( Castelo Branco). Foi subindo por várias
localidades e acabou o mês em
Seia. O mais curioso de tudo foi o facto de grande parte da
assistência desses 21 Concertos/Bailes, ser composta por emigrantes em férias
que acompanharam toda a digressão. Perguntavam-nos onde tocávamos no dia
seguinte e lá estavam eles a “curtir” o nosso “Rock”. De facto fazíamos muitos
“covers” que não eram habituais em grupos de baile.
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