Heróis do Mar – Dos fracos não reza a história…
Primeiro os Faíscas, depois o Corpo Diplomático e finalmente os Heróis do Mar. Em 1980 Pedro Ayres Magalhães convida António José de Almeida (baterista dos Tantra) e Rui Pregal da Cunha para um novo projecto. Para além de Pedro Ayres, transitavam do Corpo Diplomático Carlos Maria Trindade e Pedro Paulo Gonçalves. Uma curiosidade: quando o Corpo Diplomático abriu audições para um vocalista, um dos candidatos foi António Variações que chumbou. Sendo conhecido como cabeleireiro e não como músico, os elementos da banda aproveitaram e pediram a Variações para ser barbeiro de serviço da banda.
Por Bruno Vieira
Procurando uma nova abordagem da música portuguesa, os Heróis do Mar foram acusados de nacionalistas e fascistas, quando volvidos poucos anos sobre a revolução dos cravos, falar de portugalidade era considerado assunto tabu. A estética complementava a música e ambas fundiam-se, daí que não esteja longe da verdade considerar os Heróis do Mar como a primeira banda pop moderna portuguesa, seguindo os trilhos dos britânicos Spandau Ballet e Duran Duran.
No que respeita a discos, o primeiro single “Saudade/Brava Dança dos Heróis“ é lançado em Agosto de 81, com ambos os temas a fazerem parte do LP de estreia “Heróis do Mar“, também de 81.
Ainda sem garantias quanto ao sucesso comercial e sob pressão de alguma crítica, os Heróis do Mar viviam tempos difíceis até que lançam o máxi-single “O Amor“ em 1982.
De um momento para o outro tornaram-se a banda do momento. Os jovens portugueses podiam agora dançar ao som de um hit cantado na sua língua. O sucesso comercial estava assegurado, mas a crítica acusava-os agora de vendidos ao mercado.
Ainda neste ano os Heróis do Mar rumam a Paris para fazerem a primeira parte do concerto dos Roxy Music. No ano seguinte sai o segundo LP “Mãe“ que se revela um flop, sem que nenhuma música se consiga impor. Ainda neste ano é editado o single “Paixão“ que faz esquecer o fracasso do álbum anterior. A revista inglesa The Face considera os Heróis do Mar como o melhor grupo de Rock da Europa.
Em 1984 colaboram com António Variações como banda de suporte no seu segundo álbum “Dar & Receber“, parceria que revelar-se-ia bastante proveitosa, pese embora o débil estado de saúde do músico.
Ainda neste ano é lançado o mini-LP “O Rapto“ que inclui os temas “Supersticioso“ e “Só gosto de ti“. Apesar do sucesso, a banda estava longe do espírito dos primeiros tempos, mantendo-se mais por questões comerciais. Com uma estética a fazer lembrar uma vulgar banda de Rock, faltava agora alma aos Heróis do Mar.
Em 1985 o single “Alegria“, à semelhança de “Paixão“ (embora pior), é mais um tema fabricado para as pistas de dança.
Partem para Macau com o objectivo de se inspirarem para o novo álbum, ficam por lá um mês. O seu regresso é marcado pela rotura com a Polygram e o álbum seguinte “Macau“ de 86 é já gravado nos estúdios Valentim de Carvalho em Paço de Arcos. Com este álbum os Heróis do Mar tentam recuperar alguma da essência que esteve na génese da banda. As vendas não foram uma prioridade embora o single “Fado“ tivesse obtido relativo sucesso.
Em 1987 é editado “O inventor“, revelando uns Heróis do Mar de certa forma moribundos.
Pedro Ayres Magalhães já não estava a tempo inteiro no grupo devido ao seu novo projecto Madredeus. Apesar da banda continuar formalmente, os seus elementos passavam cada vez menos tempo juntos. O princípio do fim começou com a saída de António José de Almeida, que já não participou no álbum seguinte “Heróis do Mar IV“ de 88, sendo substituído por uma caixa de ritmos. Deste álbum há a destacar o single “Eu quero“, exemplo de como uma boa produção não é suficiente para esconder que o fim da linha estava próximo para os Heróis do Mar.
Em 1989 ainda houve tempo para a edição do single “Africana“, antes do inevitável fim em Outubro desse ano. Quanto aos restantes membros, Pedro Paulo Gonçalves e Rui Pregal da Cunha fundaram os LX-90 (mais tarde Kick Out of The Jams) com uma sonoridade próxima da cena de Madhester. Carlos Maria Trindade dedicou-se à produção e tem álbuns editados. Foi também teclista dos Madredeus, substituindo Rodrigo Leão. Pedro Paulo Gonçalves abriu, com a mulher, um atelier de roupa em Londres, explorando o conceito de fazer roupa a partir de roupa, tendo vestido nomes conhecidos como David Bowie e Blur. Presentemente encontram-se em Portugal.
A importância dos Heróis do Mar para a música portuguesa é muito maior que a sua consistência no que a álbuns editados diz respeito, os quais variavam muito, quer musicalmente quer em qualidade. Quando um álbum não resultava faziam um single para vender e esquecer o álbum anterior. Temas como “O Inventor“ e “Eu Quero“ por muito bonitos que soassem serviam apenas para mostrar que a banda ainda estava viva. Apesar da sua história ser em tudo idêntica à da típica e efémera banda pop/rock, acabariam por deixar a sua marca num Portugal onde tudo parecia estar por fazer ou acontecer.
Daí que não seja injusto o rótulo de primeira banda pop moderna portuguesa uma vez que, os Heróis do Mar foram pioneiros na criação e exploração de uma imagem associada à música, definindo um padrão seguido mais tarde por outros músicos e que ainda se mantém válido. A música só por si não fazia sentido sem uma estética associada.
Com altos e baixos os Heróis do Mar deixaram-nos algumas das melhores pérolas pop que ficarão para sempre na história da música portuguesa. São temas intemporais frequentemente recordados tanto por quem os acompanhou como por aqueles que apenas ouviram falar deles. O seu legado perdura ainda hoje, sendo Os Golpes o melhor e mais recente exemplo.
Para terminar recomendo que vejam o filme/documentário “Brava Dança” de José Francisco Pinheiro e Jorge Pereirinha Pires, de 2007. A coincidir com esta estreia foi lançada mais uma compilação, de todas editadas é a mais abrangente (embora incompleta). Para quem não tenha qualquer discografia da banda, “Amor – O melhor dos Heróis do Mar“ é um bom ponto de partida. Vejam o filme, comprem o CD e esperem pelo regresso dos Heróis do Mar, nem que seja apenas para um concerto único de reunião. Dos fracos não reza a história…
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