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À conversa com...






We Trust

Melancolia intimista camuflada por melodias pop de várias cores”



André Tentugal, jovem realizador português de créditos firmados, músico, apaixonado por fotografia, decidiu ir buscar à gaveta algumas das canções que foi escrevendo (durante as pausas na realização) ao longo dos últimos anos. A voz de "Time (better not stop)” aceitou o desafio do Som à Letra para uma conversa. Resultado? Uma paixão assumida pelo trabalho. E o sucesso do projecto não engana.

Por António Jorge


-André, como e quando nasce a decisão do álbum de estreia?
A decisão nasce há cerca de ano e meio a partir de uma proposta dos estúdios Meifumado para gravar lá uma série de temas que eu escrevi ao longo dos últimos anos. Essas músicas acabaram por formar um álbum de seu nome These New Countries.


-Como homem de várias praias, vídeo, cinema, fotografia, música, entre outras, há com certeza águas em que te sentes mais seguro e até confiante?
Hmm, essa pergunta é boa, acho que não há áreas em que me sinta mais confiante que outras. Acho que tenho tido a sorte de ter a oportunidade para fazer coisas que gosto e que num certo momento me estão a sair mais instintivamente. Essa felicidade e privilégio fazem-me estar “lá” no momento de criar e fazer as coisas com um nível de entrega e honestidade que me dão conforto, e como dizes, confiança.

-À semelhança do que acontece na indústria dos vídeos , na gravação deste primeiro álbum também pensaste algumas vezes,“se eu tivesse um outro orçamento para isto”?
Não, [risos]… O meu disco foi gravado à antiga, estúdio incrível com óptimo material (parte do disco gravado em fita), grandes músicos, tudo feito com tempo, sem pressas… com a maior dedicação sem qualquer tipo de missão instantânea ou comercial. Eu pensei foi que gostava de ter oportunidade para filmar com condições assim.


-Independentemente de ter a tua assinatura, este disco regista acima de tudo bons momentos passados entre músicos, amigos. O próprio nome do projecto "we trust" remete para uma especie de celebração colectiva.
Verdade, acho que é mais do que altura para haver colaborações e parcerias entre músicos. Num momento em que o lado comercial ou vendável da música está a sofrer uma crise profunda, faz todo o sentido os músicos unirem-se, juntarem forças e pelo menos terem algo concreto – momentos bons passados com pessoas de quem gostam a fazer algo que realmente amam: música.

-O vídeo de “Time (better not stop)", primeiro single do álbum,  tem a realização do sueco Rockard Bengtsson. É verdade que se “crazaram” na rede?
É verdade também, sim. Eu não queria fazer o meu próprio videoclip. Queria dar espaço para alguém ilustrar a canção. Depois de uns dois, três meses de pesquisa intensa encontrei o trabalho do Rickard e achei que era perfeito para a Time – tinha uma estética suburbana nórdica que eu adoro e tinha uma contemporaneidade inocente que me prendeu. Ainda bem que ele achou o mesmo. Foi um bom instinto.


.Depois de ver o (fantástico) vídeo de “Time”(..)”penso numa frase lida algures. “O processo slow-motion torna os filmes mais vivos”. Queres comentar?
Não concordo muito com essa frase. Acho que há várias formas de tornar os filmes vivos. Acho que o slow motion deixa-nos saborear melhor alguns momentos que às vezes nos passam rápido demais. Como o conceito do vídeo era um pouco uma invasão aos subúrbios por um grupo de putos, fazia sentido saborear os seus movimentos no espaço de uma forma lenta e pausada. Acho que a própria Time tem um toque slow-motion.



-Para um homem que está habituado a estar por trás do que se vê e ouve ; como tem sido agora, nos palcos? Paredes de Coura assustou?
Sinceramente, não assustou muito. Quando subi ao palco e vi a plateia completamente cheia deu-me um sentimento de tranquilidade e confiança. Percebi que estava ali muita gente para nos ouvir e a felicidade proveniente disso relaxou-me. Depois foi só aproveitar ao máximo o momento. Acho que será mais assustador chegar um dia a um palco e ter umas 10 pessoas espalhadas numa sala vazia a observar com um ar sério e crítico (ahah espero que isso não aconteça, claro).

.O feedback de time (better not stop) foi muito para além das expectativas ou nem por isso?
Sendo sincero, as expectativas eram altas, quando eu vi as imagens do Rickard e as juntei à música senti que havia ali uma coisa muito especial em mãos. Claro que não achei que se espalhasse tanto e tão rapidamente. Principalmente a nível mundial. Tive e tenho tido contactos de montes de países diferentes e tem sido incrível. Quanto ao fenómeno de rádio é que não estava à espera. A Time chegar ao primeiro lugar do top de algumas das mais importantes rádios a nível nacional é algo mesmo que eu não sonhava que acontecesse. Mas assim de surpresa soube ainda melhor.


-O que é que eu vou encontrar nas canções deste registo de estreia?
Vais encontrar lugares diferentes, histórias diferentes e bastante optimismo. Uma melancolia bem intimista camuflada por melodias pop de várias cores. (fui claro? Ah ah… não se pode pedir ao músico para dissecar as suas canções… depois dá nisto).

André Tentúgal, realizador, músico e fotógrafo. Sabe que nestas coisas normalmente não há orçamentos, mas continua a fazer, porque acredita!


Abraço, boa sorte e obrigado.
AJ

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