Avançar para o conteúdo principal

Espaço "The Indies"




The White Stripes 




Por Bruno Vieira 
Originalmente publicado a 13 de Agosto de 2010


Recentemente li numa conhecida revista que os anos 2000 não tinham servido para nada no que respeita à música. Não poderia estar mais em desacordo na medida em que, com maior ou menor reconhecimento, cada década teve a sua história e o enquadramento próprio face às décadas anteriores e seguintes.



Na minha opinião o sentimento de desvalorização relativamente a algo está muito dependente da apreciação que cada um faz, e a música não é excepção. O facto de, por algum motivo, não nos identificarmos com uma determinada tendência leva-nos a uma análise parcial e redutora quando comparado com algo que realmente gostamos.


É frequente ouvir dizer que já não há bandas como antigamente, que já não há clássicos, que já não há isto ou que já não há aquilo. À excepção da geração actual que tem vivido os anos 2000 e que se tem mantido atenda ao estabelecimento de importantes bandas como os Muse, White Stripes, Libertines ou os The Strokes, são raros os exemplos de pessoas doutras gerações que estão familiarizados com estes nomes, inclusive a geração anterior, na qual me incluo.

Os anos 2000 musicais são, de um modo geral, incompreendidos e mal amados, mas sempre pelos motivos errados e devido essencialmente ao desconhecimento pela falta de divulgação dos novos nomes da música. Estes são sempre comparados, em perda, relativamente aos das décadas anteriores.


É mais ou menos como comparar o Maradona ao Eusébio, ou este em relação ao Cristiano Ronaldo, são comparações impossíveis, ou seja, cada um no seu tempo e enquadramento específico. Como é que é possível afirmar que hoje em dia não há artistas como dantes, quando a maioria das pessoas nem sequer os conhece? Refiro-me obviamente aos artistas fora do âmbito mais comercial.


Quanto muito, estes apenas conseguem tornar-se conhecidos do grande público quando já se tornaram tão comerciais ao ponto da maioria das rádios não ter receio em arriscar passar a sua música, como por exemplo os The Killers.

As especificidades da última década marcada por uma divulgação musical tendenciosa e pelo desapego do público em consumir música de forma legal (devido à generalização da pirataria), levou muitos dos consumidores (compradores) de música até aos anos 90, a encarar a mesma de forma descartável nos 2000s.


Piratear, usar e deitar fora é a palavra de ordem. Ao invés de servirem a música, a maioria da pessoas serve-se da música e isto não tem nada a ver com o menor talento dos artistas actuais, como muitas vezes se ouve, antes com a falta de divulgação das rádios que consequentemente levam a maioria das pessoas ao desconhecimento da realidade.



Mas nem tudo é negativo, e no meio de uma indústria musical decadente sobrou espaço para a música ao vivo. É certo que concertos e festivais não são propriamente uma novidade mas, nos últimos anos, têm vindo a ganhar terreno face às cada vez mais irrelevantes vendas de discos.

No meio de mortos e feridos a música ao vivo foi a sobrevivente, com boas perspectivas para assim se manter nas próximas décadas, e ainda bem porque, se esta tivesse batido no fundo como as vendas de discos ou o duvidoso critério das playlists da maioria das rádios, aí estaríamos irremediavelmente condenados à total ignorância.


A música ao vivo com a variada oferta de concertos e festivais, acabou por tornar-se num símbolo de liberdade principalmente por quem anseia descobrir novas sonoridades no meio do marasmo da divulgação musical em Portugal.


O público, em vez de se contentar apenas com o que lhe é imposto, em que a música é servida como se de fast-food se tratasse, tem desta forma uma oportunidade de partir à descoberta de outras realidades. No meio de tantas portas fechadas, a música ao vivo parece ser a única forma de rumar contra a corrente.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Citizen Kane na Máquina do Tempo

Link da imagem Texto original: Miguel Ribeiro Locução: Irene Leite Adaptação e Edição: Irene Leite

REM no vídeo do mês

 Link da imagem Decorria o ano de 1985 quando pela primeira vez se ouviu o tema “Bad Day” num concerto dos REM em Nova Iorque. Contudo , só 18 anos mais tarde foi editado, tendo surgido na compilação de 2003, “In Time: The Best of REM 1988-2003”. Ainda que originalmente produzida em meados da década de 80, esta música manteve-se actual, tanto no som, como na letra crítica à sociedade americana. Por Carmen Gonçalves Originalmente dominado de “PSA”, uma abreviatura para “Public Service Announcement”, este tema surgiu como uma crítica às políticas do presidente dos Estados Unidos, Ronald Regan. Embora não tenha sido editado, foi o mote para o lançamento em 1987 de “ It's the End of the World as We Know It (And I Feel Fine) ”, um tema com uma cadência similar, que teve um estrondoso sucesso. A parecença dos dois temas não se centra só na letra cáustica de crítica à sociedade americana. Ao escutarmos o ritmo e a sonoridade de ambas, não se pode deixar de ver...

Pedro e os Apóstolos no Luso Vintage

Link da imagem O gosto pela música é universal, “Mesmo para quem não é Crente”, como diria Pedro e os Apóstolos, uma banda nascida em 1992 e que hoje tem o seu momento na rubrica Luso vintage do Som à Letra. Por Gabriela Chagas Pedro de Freitas Branco, um cantor, compositor e escritor português , que a par deste projecto ficou também conhecido por ter sido co-autor de uma colecção de aventuras juvenis, "Os Super 4", é o Pedro da história.   Reza a história que tudo começou numa tarde de Fevereiro de 1992, numas águas furtadas de Lisboa. O apóstolo Gustavo pegou nas congas, o apóstolo Soares ligou o baixo a um pequeno amplificador de guitarra, e o apóstolo Pedro agarrou na guitarra acústica. Não pararam mais nos quatro anos seguintes. Em 92 produziram eles próprios um concerto de apresentação aos jornalistas e editoras discográficas em Lisboa que despertou o interesse das rádios , que acreditaram no grupo. Em Julho de 1996 gravaram o seu primeiro disco, “Mesmo para ...