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Crítica: Zola Jesus


Conatus 

Por Marcelo Pereira
Apesar de já contar com três álbuns e alguns EPs no seu repertório discográfico, foi no ano passado – aquando do lançamento do álbum “Stridulum II”, que Zola Jesus afiançou popularidade crítica e notoriedade entre um público devoto. Deste modo, e após uma recepção mais ampla das suas idiossincrasias musicais, eis que “Conatus” se descortina (através de um stream perscrutado pelos fãs mais dedicados) perante uma comunidade expectante: volátil e irregular, irá Zola Jesus recorrer às sonoridades algo sombrias e florestais de “New Amsterdam” (2009), aos meandros atmosféricos do gothic rock de “The Spoils” (2010), ou aos ritmos funéreos e a ambiência lúgubre de “Stridulum II”(2010)?


Refrescante e inventivo, “Conatus” é, acima de qualquer característica estilística que lhe possam atribuir, um projecto arrojado e singular, repleto de autenticidade e inovação, onde a distintiva pessoalidade de Nika Roza Danilova (o verdadeiro nome da artista) ecoa com alguns travos aos seus trabalhos precedentes, mas que conta com sabores frescos e muito particulares. Desde a faixa introdutória “Swords” (capitulada com um instrumental de tonalidades frenéticas e metálicas), ao desarmante “Vessel” (que, originalmente lançado como single estreante, recorda a monumentalidade vocal de “Manifest Destiny” ou a alçada tétrica de “Lightsick” – ambos temas presentes no antecedente “Stridulum II”), “Conatus” é, prescrito como um projecto pautado pela sua multiplicidade enquanto disco de diversas temáticas e sonoridades, uma pronunciação variada da inspiração negra e sorumbática de Zola Jesus enquanto autora. “Hikikomori” e “Ixode” ascendem aos pináculos do álbum com eficácia e rapidez, solidificando não só o porte conceptual de “Conatus”, como se consagram entre os melhores temas que Jesus já teve o deleite de compor. “Lick the Palm of the Burning Handshake” e “Skin” são as faixas que mais divergem do apanágio estilístico da artista norte-americana, suavizadas por um piano harmonioso e uns odores mais ténues, não tão sobrecarregados com a tragicidade e a morbidez habitual de sucessos como “Night”, “I Can’t Stand” ou “Clay Bodies”.


Siga a continuação do artigo em: http://wtmo.fm/2011/09/review-zola-jesus-conatus/

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